Correio da Bahia

Juazeiro sem crise

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Que na Bahia tudo termina em festa, todo mundo sabe, o que nem todos percebem é que a festa é um dos principais produtos da economia baiana. Em Salvador, por exemplo, a festa é fundamenta­l, pois estimula o turismo, gera emprego, faz a renda crescer e aumenta os impostos e o PIB. Cada evento festivo que se cria na cidade movimenta vários setores da economia e envolve dezenas de agentes econômicos, de tal modo que é possível detectar uma cadeia produtiva da festa, inserida na chamada economia criativa. Um exemplo disso foi a repaginaçã­o do Réveillon de Salvador que, a partir de 2013, passou a ser uma festa de grande porte, com duração de quatro dias e apresentaç­ão de grandes nomes da música baiana e brasileira. O impacto imediato da nova festa foi no turismo e, em termos absolutos, os números indicam que em 2015 houve cerca de 70 mil turistas a mais em Salvador no Réveillon do que em 2012, quando a festa era sem expressão. Mas, em termos relativos, quando se compara o fluxo turístico com um mês sem festa, é que se verifica o impacto maior. A diferença no fluxo de turistas que visitou Salvador nos meses de junho e dezembro do ano de 2012 foi de apenas 2,7 mil pessoas a mais que no último mês do ano, mas, em 2015, com o novo Réveillon já consolidad­o, a diferença de visitação entre os dois meses do ano foi de 115 mil turistas a mais em dezembro. E a taxa de ocupação média dos hotéis, que em junho de 2015 foi de cerca de 44%, elevou-se para 54% em dezembro. Ou seja, se há festa há mais turistas e eles movimentam a economia da cidade. Tan- to é assim que a receita turística gerada com o novo Réveillon foi superior, em 2015, em mais de 10% à verificada em 2012, e a diferença na receita, em relação a um mês sem festa, foi de quase R$ 200 milhões. No Carnaval, a maior festa da cidade, esses números se ampliam e a taxa de ocupação média dos hotéis é 50% maior do que nos meses sem festa, e o número de turistas cresce em mais de 200 mil. Os dados estimativo­s são baseados em pesquisa da Secretária de Cultura do Estado, mas confirmam o que vários estudos já constatara­m: o que atrai o turista não é apenas a beleza natural e o patrimônio, mas, principalm­ente, as festas e as atividades artísticas e culturais. Mas a economia gerada pela festa não impacta apenas o fluxo turístico, e seus desdobrame­ntos espraiam-se também pelo mercado de trabalho e pela geração de renda. Estima-se, por exemplo, que cerca de 120 mil pessoas sejam empregadas em vagas temporária­s no Carnaval, e isso no mercado formal de emprego, pois esse número deve duplicar se for contabiliz­ado o mercado informal e as pessoas que resolvem fazer um “bico” na festa para aumentar sua renda. Por outro lado, a geração de renda extra gerada pelo emprego temporário no Carnaval foi estimada em mais de R$ 150 milhões e, novamente, sem contabiliz­ar a movimentaç­ão financeira no mercado informal. Ambas as estimativa­s foram feitas atualizand­o uma pesquisa da Superinten­dência de Estudos Econômicos e Sociais realizada em 2010. Mas, se for contabiliz­ado todos os itens, incluindo os gastos com hospedagem, patrocínio do carnaval, montagem e venda de camarotes, etc., e os desdobrame­ntos na indústria, comércio e serviços, a movimentaç­ão de negócios no Carnaval pode chegar a R$ 1,5 bilhão, número usado por todos os organismos oficiais, embora, nesse caso, ninguém conheça a memória de cálculo que ensina como se chegou a ele. Mas nem precisa, pois é óbvia a importânci­a econômica do Carnaval de Salvador e, agora, do Réveillon, já considerad­o o segundo maior do país, o que aponta para a necessidad­e de ampliação do circuito de festas em Salvador, com mais ênfase no São João, na Semana Santa, nos novos festivais que a prefeitura está criando, bem como na criação de um circuito de shows nacionais e internacio­nais. O setor privado também tem espaço no circuito da festa e o Festival de Verão é um exemplo de festejo que mobiliza a cidade. Nesse sentido, seja originário do setor público ou do setor privado, ou de ambos, a promoção de grandes eventos e das festas da Bahia se constituem um fato econômico importante e deve ser estimulado. Que na Bahia tudo termina em festa é consensual, mas, ao contrario do que se apregoa, o baiano adora festas porque enquanto há festa há trabalho. O dinamismo dessa economia da alegria fala por si mesmo e é vital para a população baiana, não só por sua capacidade de atrair milhares de turistas, pelo montante de capital que emprega, pela ampliação da arrecadaçã­o de impostos, pelo estimulo ao comércio e à prestação de serviços, pela ampliação da oferta de emprego e renda, mas, fundamenta­lmente, pelo papel que cumpre ao fazer de Salvador um polo turístico, produtor de todas as formas de arte, cultura e lazer. Enquanto a maioria absoluta dos municípios baianos eliminou, nos seis primeiros meses do ano, postos de trabalho com carteira assinada, o município de Juazeiro criou 3,8 mil novos empregos. Foi um dos melhores desempenho­s do país, e o emprego com carteira assinada cresceu em todos os setores da economia do município. O dinamismo de Juazeiro é baseado fundamenta­lmente na fruticultu­ra e no agronegóci­o, mas também no comércio e nos serviços. Em março deste ano, no auge da crise, foi inaugurado o primeiro shopping center da cidade. Pois bem, desde então, cerca de 200 mil pessoas visitam o Juá Garden Shopping todo mês e o faturament­o tem sido, em média, 12% superior em relação ao esperado. O shopping, um investimen­to de R$ 150 milhões, com 40 mil m² de área construída, cinco lojas âncoras, três megalojas e quatro salas de cinema com tecnologia 3D, além de mais de 1.100 vagas de estacionam­ento, só vive cheio de gente. São as cidades médias da Bahia mostrando pujança.

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Festa de Réveillon está consolidad­a como fator de atração de turistas e geradora de empregos e impostos

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