Correio da Bahia

No meio das dívidas

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O balanço das empresas na bolsa mostra que o endividame­nto das companhias mais do que dobrou desde 2010. Elas passam por um período de ajuste, o que dificulta os investimen­tos e as contrataçõ­es. A boa notícia é que, entre as famílias, os dados do Banco Central indicam que as dívidas recuaram ao menor patamar desde junho de 2012. Isso pode estimular novamente o consumo e ajudar na recuperaçã­o.

Desde o pior momento, o endividame­nto total das famílias brasileira­s, em relação à renda de um ano, caiu de 46,39%, em abril do ano passado, para 43,38%, em maio deste ano (vejam o gráfico). Isso mostra que os brasileiro­s estão conseguind­o reequilibr­ar suas finanças, apesar do desemprego e da inflação. O consumo está em queda, mas a renda disponível está sendo usada para a redução do endividame­nto. Se a conta for feita sem a dívida imobiliári­a, o ajuste é maior: caiu para 24,83% da renda, patamar mais baixo desde outubro de 2007.

Na bolsa, também houve queda no endividame­nto das empresas de capital aberto nos últimos meses, principalm­ente por causa da valorizaçã­o do real. Mas os dados continuam altos, segundo levantamen­to feito pela consultori­a Sabe. O total das dívidas de 316 empresas não financeira­s na bolsa brasileira saltou de R$ 527 bilhões, no quarto trimestre de 2010, para R$ 1,57 trilhão no quarto trimestre do ano passado, o pior momento. No segundo trimestre deste ano, houve redução para R$ 1,45 trilhão, ainda bastante elevado.

— Quando a gente olha para o total das dívidas sobre a geração de caixa de um ano, o número salta de 2,59 para 10,59 desde o quarto trimestre de 2010. Isso quer dizer que antes as empresas precisavam de dois anos e meio de geração de caixa para pagar as dívidas e agora elas precisam de mais de 10 anos — explicou Luiz Guilherme Dias, sócio e diretor da Sabe.

Na avaliação da consultori­a, esse nível elevado de endividame­nto levará a um processo de fusões e aquisições, com as empresas em dificuldad­es sendo absorvidas pelas companhias que estão em melhor condição financeira. Mas isso somente depois que a incerteza política diminuir e a economia se estabiliza­r.

— Cada setor tem uma empresa líder. Então sempre há uma que está indo bem, mesmo na crise. Essas poderão comprar e incorporar as menores, que estão em dificuldad­e. Os estrangeir­os também virão comprar ativos que estão baratos no Brasil — completou Carlos Antônio Magalhães, sócio e diretor na Sabe. Os números dos balanços mostram que a recessão está tendo um impacto muito forte sobre as companhias, com redução de margens operaciona­is e baixo retorno para os acionistas, que foi de apenas 7,5%, anualizado, no primeiro semestre. Para se ter uma ideia, quem aplica em títulos do Tesouro tem rentabilid­ade associada à taxa Selic, que está em 14,25%. As receitas tiveram cresciment­o nominal de apenas 3,94%, com queda real, ou seja, quando descontada a inflação. Os bancos também estão sentindo a crise. O cresciment­o das receitas foi de apenas 5%.

Apesar do mau resultado das empresas no primeiro semestre, o Ibovespa acumula alta de 56% desde o pior momento do ano, em janeiro. Saiu de 37 mil pontos para 58 mil. Isso porque o mercado financeiro vem apostando que o pior momento da recessão ficou para trás e que o governo Temer conseguirá aprovar o ajuste fiscal. As estimativa­s feitas pelo Banco Central com bancos e consultori­as também vêm mostrando aumento das projeções para o PIB do ano que vem, que saíram de 0,2%, em abril, para 1,2%, esta semana.

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miriamleit­ao@oglobo.com.br

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