Choque de realidade
Duas semanas e meia de farto cardápio esportivo, acompanhando o que sempre interessou e também o que nunca despertou o mínimo interesse, como esgrima e saltos ornamentais. A Olimpíada Rio-2016 foi como Carnaval: tem horas que tanto faz o trio elétrico que está passando, ainda estamos na rua curtindo. Por quê? Porque a sensação é boa demais e é única.
O término dos Jogos Olímpicos também traz uma sensação única: a de Quarta-feira de Cinzas, como descreveu o colega Moysés Suzart em plena segunda. Cinzas de ressaca e de recomeço. O ouro fantástico do vôlei masculino e a festa de encerramento impuseram de volta a realidade do Campeonato Brasileiro, que tem causado preocupação para tricolores e rubro-negros.
O Vitória continua sem meio-campo. Marinho continua jogando por todo o trio de ataque. A defesa continua desprotegida. E Mancini continua sem encontrar o parceiro ideal para Willian Farias no meio. Se colocar Amaral, cobre melhor a retaguarda, mas agrava ainda mais o problema de articulação e posse de bola no setor. Teoricamente, Flávio e José Welison fazem o oposto. Na prática, o meio-campo não ganhou corpo quando eles tiveram chance no time titular. Marcelo parece ser o mais próximo de conseguir fazer o que Willian faz: marcar duro e passar certo. Mas tem entrado num momento ruim, tanto dele quanto de boa parte do time, que não vem rendendo o que pode. Os jogadores do meio-campo rubro-negro não têm mostrado a polivalência que o esquema 4-3-3 requer deles. Isso inclui Cárdenas também, e não só os volantes.
O Bahia abriu o returno com vitória imponente por 3x0 sobre o Avaí, mas é cedo para empolgação. Assim como no ano passado, o retrospecto tricolor contra os times que brigam pelo acesso é muito fraco. O Bahia fechou o turno em 8º lugar. No confronto direto com os sete primeiros, perdeu de Vasco, Ceará, Brasil de Pelotas, Londrina e Criciúma, empatou com o Atlético Goianiense e só ganhou do CRB. Sábado, contra um Paraná em crise (seis jogos sem vencer), o Esquadrão tem uma ótima chance de vencer e diminuir a distância até o G4 possivelmente para dois pontos, já que o CRB enfrenta o Ceará fora de casa. Mas o que vai definir o sucesso ou o fracasso do time é o comportamento que ele terá nos confrontos diretos com as equipes a sua frente.
A Olimpíada Rio-2016 foi como Carnaval: tem horas que tanto faz o trio elétrico que está passando, ainda estamos na rua curtindo.
A sensação é tão boa que até esgrima e saltos ornamentais
viram atração
TORCIDA
O modo de torcer dos brasileiros na Olimpíada foi destaque internacional. Muitos aprovaram, muitos reclamaram do barulho e do apoio declarado para algum atleta. Este é o jeito latino-americano de torcer, o que grande parte dos atletas e da mídia estrangeira desconhece, pois está acostumada ao padrão primeiro-mundista de observar em silêncio e evitar manifestações ruidosas - a maioria das grandes competições acontece em países desenvolvidos. No entanto, não há uma maneira mais certa de torcer; são apenas jeitos diferentes. Os reclamões que aprendam a respeitar tais diferenças, em vez de enxergar somente o modelo europeu como aceitável. Obviamente, algumas situações passam do ponto, como fazer barulho no tiro de largada da natação ou do atletismo. Mas excessos como esses foram exceção. A torcida brasileira deu um espetáculo, assim como foi a primeira Olimpíada no Brasil e na América do Sul.