Medalha é consequência
Uma semana após o fim dos Jogos Olímpicos do Rio-2016 é hora de deixar a emoção de lado e passarmos a usar a razão para avaliar a realização da Olimpíada no Brasil. Apesar de que somente em 10 ou 15 anos essa avaliação poderá ser conclusiva.
Explico. Muito se falou do investimento do país nos seus atletas. Gastamos o dobro do investido para Londres-2012, esperamos um top-10 no quadro de medalhas, mas acabamos em 13º, com apenas duas conquistas a mais que há quatro anos.
Essa é uma análise rasa e de resultados. O que precisa ser analisado a fundo é o desempenho dos atletas. Segundo um estudo do globoesporte.com, das 32 modalidades em que o Brasil participou, em 21 os atletas brasileiros tiveram um desempenho melhor que em Londres. Em cinco, os resultados foram piores, em uma foi o mesmo e em outras cinco o Brasil participou pela primeira vez.
Além disso, duas marcas são muito importantes: o Brasil conquistou medalhas em 12 esportes diferentes (7º melhor no critério) e ficou por 75 vezes entre os oito primeiros colocados em uma competição (estatística também top 10). Em Londres-2012, foram 41 vezes.
Este é o caminho. Um atleta medalhista em uma final é um ótimo atleta. Oito finais sem nenhum medalhista (como foi o caso da natação) mostra um projeto. Quanto mais gente na final, mais chance de conquistar um lugar no pódio. O importante é ter uma política de incentivo ao esporte, estimular a prática, trazer treinadores de ponta para aperfeiçoar as modalidades, utilizar a ciência em nome do esporte. Medalhas não podem ser objetivo, elas são consequência.
Assim, os R$ 40 bilhões gastos nos Jogos Olímpicos - que, realmente, foram muito - podem ter um ‘desconto’ a depender do legado deixado para o futuro. De cara, dá pra saber que o projeto que empolga mais é o da Arena Carioca 3, que se tornará o Ginásio Experimental Olímpico (GEO), uma escola para mil crianças em horário integral, com ênfase em educação esportiva. Dela, os resultados só será colhidos em, pelo menos, 10 anos.
A Arena do Futuro e o Estádio Aquático serão desmontados e transferidos para diversos bairros mais pobres. Mas aí, eu me pergunto o que será feito na área em que eles estão agora. A resposta é fácil, um grande condomínio de luxo, como o que se transformará a Vila Olímpica, e um outro onde o campo de golfe se transformará em ‘atração’.
A conta da Prefeitura do Rio não deve fechar tão cedo, mas benesses com ampliação de BRT e metrô são muitas. Encurtaram a distância para bairros longínquos como Deodoro, por exemplo. Para que o Rio-2016 valha à pena, é necessário que não esqueçamos dele. Pelo bem e pelo mal.