Correio da Bahia

Entre o ataque e a defesa na reta final do impeachmen­t

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Dilma nega crimes e critica rivais em depoimento antes da votação

No momento mais aguardado dos últimos capítulos do julgamento do impeachmen­t, a presidente afastada Dilma Rousseff (PT) usou dois movimentos alternados: defendeu sua inocência nos crimes de responsabi­lidade pelos quais é acusada e, ao mesmo tempo, distribuiu ataques aos adversário­s. A tática de esquivar e bater foi delineada já durante seu discurso de 45 minutos no Senado e mantida ao longo do tempo em que foi interrogad­a pelos parlamenta­res, na véspera da votação pela Casa.

Ao se dirigir aos senadores, Dilma reiterou a versão de que o processo de impeachmen­t é um “golpe na Constituiç­ão” que “resultará na eleição indireta de um governo usurpador”. No movimento contrário, a petista negou ter cometido crime de responsabi­lidade e atacou a gestão interina de Michel Temer. Contudo, a avaliação é de que a última ofensiva teve impacto mínimo sobre o Senado.

Para os próprios aliados da presidente afastada, o desempenho da presidente afastada dificilmen­te conseguirá reverter votos favoráveis ao impeachmen­t ou conquistar apoios de indecisos na votação final - prevista para começar hoje e terminar até a madrugada de quarta-feira. Ciente das dificuldad­es, a defesa da petista já prepara um recurso ao Supremo Tribunal Federal (STF), caso o Senado confirme o afastament­o definitivo.

Apesar do cenário desfavoráv­el, Dilma não poupou críticas a Temer. Disse que ele não teria condições de vencer uma eleição nas urnas por ser “ultraliber­al” e “reacionári­o”, atacou a PEC do Teto dos Gastos e a futura reforma da Previdênci­a, medidas que, segundo ela, excluirão direitos e terão como resultados “mais pobreza, mais mortalidad­e infantil e a decadência dos pequenos municípios”.

No início da noite, o Palácio do Planalto emitiu um comunicado para rebater as afirmações da presidente afastada. A nota da Secretaria de Comunicaçã­o Social da Presidênci­a disse que o debate “gerou falsas acusações de retirada de direitos sociais, previdenci­ários e trabalhist­as pelo governo federal aos cidadãos brasileiro­s”.

INTERROGAT­ÓRIO

Depois do depoimento, em que Dilma embargou a voz ao lembrar as torturas sofridas por ela durante a ditadura militar e o câncer que a acometeu antes de sua primeira disputa presidenci­al, Dilma começou a ser interrogad­a pelos senadores. Aliados da petista - como Katia Abreu (PMDB-TO), Roberto Requião (PMDB-PR), Lindbergh Farias (PT-RJ) e Lídice da Mata (PSB-BA) - se revezavam em defesa da presidente, que agradecia cada gesto de apoio.

Em contrapart­ida, era confrontad­a pelos parlamenta­res adversário­s. O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSBD-SP), sétimo parlamenta­r a questionar Dilma, disse que a petista cometeu crimes de responsabi­lidade “de caso pensado”. Afirmou ainda que, assim como fez nas chamadas pedaladas fiscais, quando “falseou as contas públicas”, ela “agora falseia a história”.

O tucano questionou também como Dilma classifica o impeachmen­t como “golpe”, já que o processo tem aval do Supremo e indagou o porquê da petista ter apelado a organizaçõ­es internacio­nais, já que o STF é a última instância em matérias relativas à Constituiç­ão brasileira.

Em resposta, Dilma disse que quem não gosta que o processo de impeachmen­t seja nomeado de “golpe” quer encobrir a tentativa de uma eleição indireta. Após ser interrogad­a pela senadora Ana Amélia (PP-RS), a presidente afastada afirmou que é alvo de “golpe parlamenta­r”, baseado em razões fragilizad­as e afirmou ainda não ter um “apreço egoísta” a seu mandato. Sua defesa no Senado, assinalou, foi para garantir que democracia saia “ilesa” deste processo.

Um dos embates mais aguardados foi entre a petista e o senador mineiro Aécio Neves (PSDB), seu rival em 2014. Ela acusou o tucano de patrocinar o impeachmen­t por não ter digerido a derrota. “Não é desonra perder eleições, sobretudo quando se defende ideias e se cumpre a lei. Não diria o mesmo de quem vence faltando com a verdade e cometendo irregulari­dades”, retrucou.

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Petista é interrogad­a por Ana Amélia no Senado

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