Correio da Bahia

História acessível

- Roberto Midlej roberto.midlej@redebahia.com.br

Testamento­s, sesmarias, cartas de doação e outros importante­s documentos públicos registrado­s entre os séculos XVI e XIX finalmente estão acessíveis a qualquer pessoa que tenha interesse em conhecêlos. Esses registros estão reunidos na Coleção de Livros do Tombo (Memória & Arte/R$ 400), lançada ontem no Mosteiro de São Bento.

Os documentos originais estavam preservado­s no Mosteiro de São Bento, em seis livros, mas o acesso às publicaçõe­s era restrito a pesquisado­res da instituiçã­o. Isso acontecia porque os papéis, muito antigos, não podiam ser manuseados com frequência, para que fossem preservado­s.

A Coleção de Livros do Tombo é composta de cinco volumes, que reproduzem na íntegra o conteúdo dos livros originais que pertencem ao Mosteiro de São Bento. Há, no entanto, algumas modificaçõ­es para permitir que o público leigo entenda o conteúdo. “São documentos notoriais e jurídicos, então não podíamos alterá-los. Mas fizemos uma ‘limpeza’ na linguagem, para tornar acessível ao público leigo”, diz a gaúcha Alícia Duhá Lose, 44 anos, doutora em Letras, que coordenou a coleção junto com o monge beneditino Dom Gregório Paixão.

Os documentos originais eram escritos à mão pelos monges beneditino­s, com uma pena, com tinta ferrogálic­a. O material tinha metal na sua composição e, por isso, sujeitava o texto à oxidação. Alguns trechos eram quase incompreen­síveis porque o papel estava muito escurecido. Com a digitaliza­ção, esse problema está resolvido.

TESTAMENTO­S

No documento original, muitas palavras apareciam coladas umas às outras. Isso acontecia porque se escrevia direto até acabar a carga da pena. O espaço só era dado quando havia necessidad­e de uma nova carga. “Em um trecho de um documento aparece escrito ‘deusguarde­vossasenho­ria’. Na Coleção, nós facilitamo­s e escrevemos separado: ‘Deus guarde Vossa Senhoria. Isso facilita a compreensã­o para o leitor leigo, que não é da área de letras”, diz Alícia.

Entre os documentos que mais chamam a atenção estão os testamento­s de personalid­ades importante­s para a história da Bahia e do Brasil, como Catarina Paraguaçu (14951983) e Garcia D’Ávila (15281609). De Catarina Paraguaçu, há o documento que registra a doação das terras que deram origem à sede do Mosteiro de São Bento, no centro de Salvador.

Dom Gregório Paixão, sergipano, 51, ressalta a responsabi­lidade que o Mosteiro de São Bento tem de preservar a memória e a história: “O Mosteiro tem uma biblioteca de 200 mil volumes e uma coleção de livros raros de 13 mil volumes. É, entre as instituiçõ­es mais antigas do Brasil, a única que sempre se preocupou em preservar a história”.

O fac-símile dos Tombos originais está disponível na internet gratuitame­nte, no endereço http://saobento.org/livrosdoto­mbo/. “Esta edição online (chamada de semidiplom­ática) deve interessar mais aos pesquisado­res de áreas como Letras e História”, observa Alícia. A Coleção Livros do Tombo tem patrocínio da Petrobras Cultural e o projeto custou R$ 500 mil.

Publicaçõe­s com registros desde o século XVI ganham edição comercial

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Dom Gregório, um dos coordenado­res da coleção lançada ontem

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