História acessível
Testamentos, sesmarias, cartas de doação e outros importantes documentos públicos registrados entre os séculos XVI e XIX finalmente estão acessíveis a qualquer pessoa que tenha interesse em conhecêlos. Esses registros estão reunidos na Coleção de Livros do Tombo (Memória & Arte/R$ 400), lançada ontem no Mosteiro de São Bento.
Os documentos originais estavam preservados no Mosteiro de São Bento, em seis livros, mas o acesso às publicações era restrito a pesquisadores da instituição. Isso acontecia porque os papéis, muito antigos, não podiam ser manuseados com frequência, para que fossem preservados.
A Coleção de Livros do Tombo é composta de cinco volumes, que reproduzem na íntegra o conteúdo dos livros originais que pertencem ao Mosteiro de São Bento. Há, no entanto, algumas modificações para permitir que o público leigo entenda o conteúdo. “São documentos notoriais e jurídicos, então não podíamos alterá-los. Mas fizemos uma ‘limpeza’ na linguagem, para tornar acessível ao público leigo”, diz a gaúcha Alícia Duhá Lose, 44 anos, doutora em Letras, que coordenou a coleção junto com o monge beneditino Dom Gregório Paixão.
Os documentos originais eram escritos à mão pelos monges beneditinos, com uma pena, com tinta ferrogálica. O material tinha metal na sua composição e, por isso, sujeitava o texto à oxidação. Alguns trechos eram quase incompreensíveis porque o papel estava muito escurecido. Com a digitalização, esse problema está resolvido.
TESTAMENTOS
No documento original, muitas palavras apareciam coladas umas às outras. Isso acontecia porque se escrevia direto até acabar a carga da pena. O espaço só era dado quando havia necessidade de uma nova carga. “Em um trecho de um documento aparece escrito ‘deusguardevossasenhoria’. Na Coleção, nós facilitamos e escrevemos separado: ‘Deus guarde Vossa Senhoria. Isso facilita a compreensão para o leitor leigo, que não é da área de letras”, diz Alícia.
Entre os documentos que mais chamam a atenção estão os testamentos de personalidades importantes para a história da Bahia e do Brasil, como Catarina Paraguaçu (14951983) e Garcia D’Ávila (15281609). De Catarina Paraguaçu, há o documento que registra a doação das terras que deram origem à sede do Mosteiro de São Bento, no centro de Salvador.
Dom Gregório Paixão, sergipano, 51, ressalta a responsabilidade que o Mosteiro de São Bento tem de preservar a memória e a história: “O Mosteiro tem uma biblioteca de 200 mil volumes e uma coleção de livros raros de 13 mil volumes. É, entre as instituições mais antigas do Brasil, a única que sempre se preocupou em preservar a história”.
O fac-símile dos Tombos originais está disponível na internet gratuitamente, no endereço http://saobento.org/livrosdotombo/. “Esta edição online (chamada de semidiplomática) deve interessar mais aos pesquisadores de áreas como Letras e História”, observa Alícia. A Coleção Livros do Tombo tem patrocínio da Petrobras Cultural e o projeto custou R$ 500 mil.
Publicações com registros desde o século XVI ganham edição comercial