Correio da Bahia

O Bahia não pode abrir mão de sua gente

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A diretoria do Bahia fez promoção e a torcida correspond­eu.

Mais de 20 mil foram apoiar na vitória de sábado contra o Paraná na Fonte, por 3x0. O maior público do tricolor no ano na Série B. A atitude dos cartolas é louvável (caçadas a pokémons à parte). Só não consigo entender por que eles demoram tanto para enxergar o óbvio e relutam em facilitar o acesso do torcedor ao estádio.

Essa miopia não é exclusivid­ade da atual diretoria tricolor. As anteriores agiam da mesma forma. É um mal que assola quase a totalidade dos clubes com torcidas significat­ivas. Os cartolas só barateiam os ingressos quando o bicho está pegando – time mal na tabela ou correndo o risco de rebaixamen­to. Preferem o estádio às moscas com preços altos a ter ingresso barato e casa menos vazia.

A visão obtusa se acentuou com o surgimento das novas arenas de Copa do Mundo. Sob a desculpa da manutenção desses estádios mais modernos, o preço dos ingressos foi lá pra cima. Só esqueceram de combinar com o torcedor. O bolso dele não acompanhou a evolução. Vivemos num país em que as classes C, D e E correspond­em a quase 70% da população. Futebol acabou virando artigo de luxo, ainda mais na atual crise econômica. De 2013, estreia da nova Fonte, pra cá, a média de público do Bahia em jogos de Campeonato Brasileiro despencou. Em 2012, último ano sem a Fonte, a média foi de 18,9 mil. Este ano é de 10 mil pessoas por jogo. Claro que o único vilão dessa história não é o valor dos ingressos. Times fracos e desempenho­s ruins no nacional também ajudaram a afastar os tricolores das arquibanca­das.

Preocupado­s com a elitização recente do Beira-Rio, torcedores do Internacio­nal lançaram o movimento “O Povo do Clube”, que luta para levar de volta para o estádio os fãs de baixa renda. “Porque o povo fez o Inter é que não aceitamos a elitização que toma conta do nosso estádio. Sentimos falta do povo humilde e trabalhado­r ocupando as arquibanca­das do Beira-Rio. Lutaremos incessante­mente para que o nosso belo estádio seja novamente pintado de povo nos dias de jogos. Queremos de volta a festa, a valorizaçã­o da cultura torcedora”, diz o trecho do manifesto do movimento.

Uma das reivindica­ções de “O Povo do Clube” é a criação de um setor sem cadeiras no Beira-Rio, onde o torcedor assistiria ao jogo em pé e, por ter menos conforto, pagaria menos. Seria o retorno da antiga geral. Excelente ideia. A Fonte Nova poderia ser pioneira nisso. É a casa de um clube cuja torcida é essencialm­ente formada por torcedores de baixa renda, tem uma taxa de ocupação baixíssima e não precisa mais cumprir as rígidas regras de competiçõe­s internacio­nais, agora que a Copa do Mundo e a Olimpíada já são passado. A geral só não pode ser longe do gramado, lá no quinto andar. Tem que ser perto do campo. Onde a massa sempre fez a diferença.

Em 2013, depois de uma vitória tricolor contra a Portuguesa, na reta final do Brasileirã­o, também precedida de promoção de ingressos, escrevi: “O autêntico tricolor foi chamado a entrar no jogo. Não importa que já quase nos acréscimos. Ele mostrou grandeza de espírito. Não guardou rancor. Provou, pela enésima vez, que o Bahia está acima de tudo. Atendeu à convocação, se fez presente em alta e, mais uma vez, resolveu. Os 35 mil corações que pulsaram na Fonte, domingo, ajudaram um time limitado a ganhar na marra. A alma do clube estava de volta. É algo que não se explica: se sente. A atmosfera era outra, o calor humano era outro. O sentimento decidiu. A Fonte Nova voltou. O Bahia não pode se dar ao luxo de abrir mão de sua razão de ser. Do maior craque de sua história. Esse torcedor precisa estar por perto sempre. Não apenas quando é convenient­e. O Bahia só é Bahia com essa gente por perto”.

Disse e repito: o Bahia não pode abrir mão de sua gente.

A Fonte Nova poderia ser pioneira no retorno da antiga geral. É a casa de um clube cuja torcida

é formada por torcedores de baixa renda e tem uma taxa de ocupação baixíssima

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darino.sena@gmail.com

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