Correio da Bahia

Chama os meninos

- AMANDA PALMA

Setembro está acabando e você ainda não comeu um caruru? Hoje é dia dos santos gêmeos Cosme e Damião e a festa é uma oportunida­de de concretiza­r o desejo de comer comida de dendê. O CORREIO fez um levantamen­to de onde será servido gratuitame­nte o caruru em Salvador. Apesar dos convites escassos, ainda existem pessoas que se dispõem a cozinhar para muitas pessoas e ofertar o manjar em casa.

Lá no Mercado das Sete Portas, a partir do meio-dia, quem quiser pode passar na Barraca Chapéu de Couro, de André Nery. Ele já está nos preparativ­os do caruru de 700 quiabos, que já é tradição há 20 anos. “É para todo mundo que chegar na feira. Isso aqui fica cheio de gente”, conta.

O caruru oferecido por ele, que é babalorixá, é completo: tem acarajé, vatapá, inhame, farofa, milho branco, pipoca, batata doce, feijão fradinho, ovos e rapadura. A devoção pelos santos gêmeos começou por causa do seu nascimento. André veio ao mundo no dia 28, um dia depois que a mãe dele comeu o caruru.

“Ela comeu no dia 26, aí teve uma dor de barriga no dia 27 e eu só nasci dia 28. Aí veio a devoção. Desde pequeno minha mãe oferecia por mim e depois eu mesmo comecei a fazer”, lembra.

Também ao meio-dia, na Cidade Nova, o aposentado Brasilto Arcanjo Rodrigues, 67, vai promover mais um ano da tradição que já dura quase 40 anos. Agora, em tamanho reduzido, por causa de problemas familiares. “Este ano vou fazer com 500 quiabos. Minha mulher está doente, perdi minha mãe e agora minha filha está assumindo para ajudar”, explica Brasilto, que costumava fazer a festa com 2 mil quiabos.

Mas em Nazaré, a tradição da Família Maia continua do mesmo tamanho. Cinco irmãs começaram ontem a cortar os

Caruru de Brasilto Rodrigues Rua Dois de Fevereiro, s/n, Cidade Nova, 12h 2 mil quiabos que vão compor o prato. E a fila é grande para quem deseja filar a boia.

“Qualquer pessoa que entre na fila come o caruru. É uma fila quase igual à do SUS. A gente não consegue saber quantos comem”, brinca a recepcioni­sta Cássia Maria de Santana Maia, 54. Mas é tudo organizado, sem tumulto.

Ela, junto com as irmãs, mantém a tradição que começou com a avó, há mais de 50 anos. “Começou antes de eu nascer. A gente faz é manter a tradição. Minhas filhas, as sobrinhas já estão começando e participam também”, cita. O dinheiro é arrecadado com amigos que sabem e querem ajudar a manter a tradição. “Cada um dá o quanto pode, a gente se junta e faz”.

Chegando no Engenho Velho de Brotas, o caruru da professora Jacira Cedraz, 76, também já é conhecido. Há mais de 30 anos, ela faz a alegria de quem passa pelo final de linha do bairro na noite do dia 27. Lá, tudo é feito como manda a tradição. “É um caruru de promessa mesmo, eu faço o caruru dos sete meninos. Primeiro é servido para os santos, depois para os meninos, que comem juntos, com as mãos e depois é servido para todos”, explica.

A programaçã­o religiosa em homenagem a São Cosme e São Damião começou ontem, na paróquia que leva o nome dos santos, na Liberdade. Hoje tem missa às 6h, 7h, 10h, 12h, 15h30 e 18h no local. O ponto alto da festa será a missa das 8h30, presidida pelo arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, dom Murilo Krieger. Às 17h, acontecerá uma procissão, que sairá da matriz, passará pela Estrada da Liberdade, e retornará para a igreja. Por causa da comemoraçã­o, o tráfego será interditad­o na Rua Lima e Silva (trecho da Rua Pero Vaz ao Largo da Soledade), entre 13h e 18h30.

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André Nery oferece caruru com 700 quiabos em sua loja, no Mercado das Sete Portas, hoje

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