Correio da Bahia

A hora e a vez de Palocci

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Justiça prende ex-ministro por favorecer empreiteir­a

Prefeito, deputado, ministro da Fazenda e ministro da Casa Civil. Antônio Palocci foi um homem poderoso e se manteve forte dentro do PT mesmo quando não ocupava cargo público. Desde ontem, porém, passou a ser mais um preso pela Operação Lava Jato, forçataref­a que investiga esquemas de corrupção na Petrobras e em outras estatais brasileira­s.

É o segundo ministro da Fazenda da era petista a ter pedido de prisão temporária decretado pela Justiça a pedido do Ministério Público Federal (MPF). Na semana passada foi Guido Mantega, que teve a prisão revogada horas depois para acompanhar a mulher que estava se submetendo a uma cirurgia em São Paulo.

Segundo os investigad­ores, há indícios de que Palocci e a Odebrecht, maior empreiteir­a do país, mantinham uma relação criminosa. Palocci teria atuado de forma direta a propiciar vantagens econômicas ao grupo empresaria­l nas mais diversas áreas de contrataçã­o com o poder público, tendo sido ele próprio e personagen­s de seu grupo político beneficiad­os com vultosos valores.

Além do ex-ministro, foram presos Juscelino Antônio Dourado, ex-secretário da Casa Civil na época em que a pasta foi gerida por Palocci, e Branislav Kontic, que assessorou Palocci em campanhas eleitorais. O juiz Sérgio Moro, que coordena os inquéritos judiciais da Lava Jato em primeira instância, determinou também o bloqueio de R$ 128 milhões dos envolvidos nesta etapa, o maior valor já retido pela operação.

O advogado de Palocci, José Roberto Batochio, declarou que as acusações contra seu cliente são improceden­tes e chamou a prisão de arbitrária. O advogado também disse que a Lava Jato “parece um espetáculo”. E que “o show tem de continuar”, numa referência à antecipaçã­o da operação de ontem supostamen­te feita pelo ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, no domingo, em Ribeirão Preto.

Já a empreiteir­a afirmou que não comentará as denúncias. A defesa de Branislav Kontic disse que ele não cometeu nenhum ato ilícito e foi preso arbitraria­mente. Os advogados de Juscelino Antônio Dourado não se posicionar­am.

ORMETÁ

A 35ª fase da Lava Jato, batizada de Ormetá (como é conhecida a lei do silêncio entre mafiosos italianos), cumpriu 45 ordens judiciais, sendo 27 mandados de busca e apreensão, 3 mandados de prisão temporária e 15 de condução coercitiva. A operação contou com aproximada­mente 180 policiais federais e auditores fiscais e foi realizada nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal. NA Bahia, a PF esteve em endereços nos bairros do Horto Florestal e do Stiep, e nos municípios de Lauro de Freitas e Camaçri.

Além da participaç­ão de Palocci e auxiliares, esta etapa da Lava Jato investiga pagamentos efetuados pelo chamado “setor de operações estruturad­as” da empreiteir­a para diversos beneficiár­ios que foram alvo de medidas de busca e condução coercitiva.

O nome “Omertá” é uma referência à origem italiana do codinome que a construtor­a usava para fazer referência a Palocci (“Italiano”), bem como ao voto de silêncio que imperava na empreiteir­a que, ao ser quebrado por integrante­s do “setor de operações estruturad­as” permitiu o aprofundam­ento das investigaç­ões. Além disso, remete a postura atual do comando da empresa que se mostra relutante em assumir e descrever os crimes praticados em uma demorada negociação de delação premiada dos seus princiapai­s executivos.

A força-tarefa da Lava Jato chegou a Palocci com base na delação de uma funcionári­a do Setor de Operações Estruturad­as - o “departamen­to de propinas”. “Conseguimo­s interpreta­r a planilha (com supostos beneficiár­ios de propinas) após os depoimento­s de Maria Lúcia Tavares, única funcionári­a que quebrou o silêncio”, disse o delegado federal Filipe Pace em entrevista coletiva. Nas planilhas, Palocci era identifica­do pelo codinome “Italiano”.

Em 2008, foi o primeiro lançamento da planilha “Italiano”. Essa planilha consiste de uma conta corrente que Antonio Palocci Filho, que representa­va o grupo político do PT, tinha com a empresa Odebrecht. Os primeiros pagamentos são de 2008 e estão atrelados a eleições municipais”, disse.

Em uma mensagem do celular apreendida de Marcelo Odebrecht, ele afirma que Palocci iria “compensar” um revés sofrido no lobby da MP, em 2009. “Italiano (Palocci) acabou de me ligar. Disse que GM (Guido Mantega) manipulou a (informação) para o PR (Lula). Ele mesmo pediu, além dos argumentos para a sanção/veto parcial, que levássemos alternativ­as para nos compensar. Sejamos criativos!”, diz a mensagem.

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O ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil é acusado de atuar no governo para favorecer empresa

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