Temer cobra explicações de Moraes
O presidente Michel Temer mandou convocar ontem o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, para uma reunião na qual ele explicasse suas declarações sobre a Lava Jato, um dia antes da fase que culminou com a prisão do ex-ministro Antônio Palocci. No meio da tarde, porém, Temer decidiu amenizar “a bronca” para tentar afastar a crise do Planalto.
Segundo interlocutores do presidente, a intenção de chamar Moraes “não era urgente”. Os dois conversaram pelo telefone e Temer teria aceitado as explicações de que se tratou de uma “infeliz coincidência”. No domingo, após a publicação da afirmação de Moraes, os dois já haviam conversado por telefone. Na ocasião, o ministro negou que tivesse antecipado a operação.
Ontem, após assistir ao vídeo com a declaração de Moraes, Temer decidiu cobrar novas explicações. A intenção é fazer uma reunião “de alinhamento” com os ministros, a fim de amenizar as seguidas crises causadas por declarações “desnecessárias” e consideradas prejudiciais para o governo. Moraes estava em Ribeirão Preto (SP), berço político de Palocci e onde o ex-ministro tem casa.
A avaliação é que o adiamento da conversa com Moraes teria, inclusive, beneficiado o governo, já que o noticiário ficaria focado na prisão do ex-ministro do PT e não na “crise” causada pelas declarações do titular da Justiça. Segundo fontes do Planalto, o desgaste em torno de Moraes não o coloca na berlinda e uma demissão do ministro não está sendo cogitada por Temer.
O presidente quer sim “enquadrá-lo” para tentar evitar o prolongamento da crise. Ao longo desta segunda, Temer mudou de postura, já que pela manhã - com o noticiário dando destaque para a suposta antecipação feita por Moraes -, interlocutores confirmavam que a fala do ministro havia sido ruim.
Além de trazer para “o colo do governo” um suposto vazamento da operação, a declaração amplia a crise de comunicação já existente. Outro fator de desgaste - e que Temer pretende salientar na conversa com ministros - é em relação a afirmações durante atos de campanhas eleitorais, já que mesmo em suas bases os ministros falam pelo governo.
O fato de envolver a Operação Lava Jato, segundo interlocutores, deixou Temer em uma situação ainda mais delicada já que o governo tem sido acusado de usar politicamente a operação. No domingo, Moraes falou durante evento de campanha de Duarte Nogueira à prefeitura de Ribeirão Preto, em conversa com integrantes do Movimento Brasil Limpo (MBL), que uma nova etapa da Lava Jato seria deflagrada nesta semana. “Teve a semana passada e esta semana vai ter mais, podem ficar tranquilos. Quando vocês virem esta semana, vão se lembrar de mim”, disse o ministro.