A rotina do desespero
Faltam 11 rodadas para as séries A e B do Brasileirão acabarem. As situações de Bahia e Vitória são dramáticas, mas previsíveis. Um briga para subir e o outro luta para não cair. Ambos estão muito distantes de terem suas situações definidas nas competições. Qual a novidade nesse roteiro? Nenhuma.
O torcedor baiano já se acostumou com essa modorrenta rotina. Quanto outubro chega, praticamente todo ano é esse sufoco. Hora de pegar a calculadora e fazer contas e mais contas e projeções. Já, já os matemáticos começam a ser ouvidos e vão pipocar matérias sobre probabilidade de acesso e descenso na internet, jornal e televisão.
Nos últimos anos nossos times só não seguiram esse roteiro em 2013, quando o Vitória, a essa altura da Série A, lutava por uma vaga na Libertadores. Foi a exceção que confirma a regra. Nosso futebol é mediocremente trivial.
A culpa como sempre é a da incapacidade dos nossos dirigentes. Os do Bahia esperaram entrar numa situação vexatória para tomar uma atitude nesta que é uma das segundonas mais fracas tecnicamente da história. Trouxeram quase um time inteiro de reforços, trocaram o comando técnico, o time melhorou, mas ainda vacila.
Jogar fora de casa é o maior pesadelo do tricolor na Série B. Valessem só os pontos como visitante, o Bahia estaria na zona de rebaixamento. Seria o 17º colocado, com um aproveitamento ridículo, inferior a 26% (apenas duas vitórias em 13 jogos). O tricolor só consegue ser melhor fora que os rebaixáveis Tupi, Bragantino e Sampaio Corrêa.
Sábado, contra o CRB, o time voltou a ser incompetente longe da Fonte Nova. Cedeu o empate depois de abrir 2x0 e estar com um jogador a mais. Haverá tempo para encontrar consistência nas atuações fora de casa? Disso depende o acesso.
Já no Vitória, o calo é jogar em casa. Não vencesse o São Paulo domingo, o time ia completar três meses sem ganhar no Barradão pelo Brasileiro. A fragilidade onde já foi temido, e muito, pelos adversários, é reflexo do elenco fraco que os cartolas rubro-negros montaram e a uma irritante resistência em reconhecer isso.
Incompetência na gestão não é exclusividade baiana. Internacional e Cruzeiro são provas disso. Nos últimos 10 anos, o Inter ganhou duas Libertadores e um Mundial. No mesmo período, o Cruzeiro levantou duas taças do Brasileirão. Hoje, colorados e cruzeirenses estão juntos na zona de rebaixamento e é muito difícil que ao menos um deles não seja degolado pela primeira vez em sua história.
A diferença é que lá, em Minas e no Rio Grande, o desespero dos grandes é o ponto fora da curva. Aqui, é rotina. E o pior: nossos cartolas querem convencer o torcedor de que essa situação é imutável. A desculpa deles é sempre a mesma: eternamente faltará dinheiro para Bahia e Vitória alçarem voos maiores. Ou seja, por determinismo econômico, temos que nos contentar em ser pequenos nos resultados e na ambição. Não se deixe enganar, torcedor. Não reproduza esse discurso. Você sabe que merece mais que isso. Lute por cartolas melhores.
O torcedor baiano já se acostumou com essa
modorrenta rotina. Quanto outubro chega, praticamente todo ano
é esse sufoco
EMBOLADO
O equilíbrio desta Série B é impressionante. Apenas três pontos separam o terceiro colocado, Avaí, do décimo, o Náutico. Ano passado, a diferença entre essas colocações, no mesmo estágio da competição, era de oito pontos.
NADA GARANTIDO
Em 2015, a 11 rodadas do fim, o Bahia estava no G4, com 46 pontos. Dois a mais que o Santa Cruz e quatro a mais que o América-MG. No fim, pernambucanos e mineiros subiram e o tricolor ficou. Dos quatro primeiros na 27ª rodada no ano passado, apenas dois se classificaram pra elite – Botafogo e Vitória. O Paysandu, que era vice-líder até então, terminou em sétimo.