Desmonte anunciado
O Centro de Convenções da Bahia (CCB) é uma espécie de quebra-cabeças de concreto e metal. Em uma operação de desmonte e demolição, todo esse gigante unido por peças enormes vai ser colocado abaixo. Foi o que anunciou ontem o governo estadual, responsável pelo equipamento, após desabamento de parte do primeiro e segundo andares em plena reforma da estrutura, na sexta-feira.
A decisão foi confirmada pelo secretário-chefe da Casa Civil, Bruno Dauster, após determinação do governador Rui Costa. Segundo Dauster, não é mais possível a recuperação do prédio. “A decisão está embasada em orientações técnicas, pois o sinistro abalou algumas estruturas fundamentais daquele equipamento que impedem a continuidade das obras de recuperação”, justificou.
Ele garantiu que o governo está desenvolvendo estudos que vão definir o local onde será construído um novo centro e disse que ainda não há prazo para a operação. “Primeiro vamos fazer o que tem de emergencial. Depois, fazer o desmonte da estrutura”, disse Dauster, sem dar prazos ou explicar o processo e os custos do desmonte.
O anúncio foi feito após inspeção realizada ontem pela manhã. Mas a decisão divide opiniões. “A princípio, acho precipitada antes de fazer uma avaliação mais detalhada”, disse o coordenador de Engenharia Civil dos Conselho Regional de Engenharia (Crea), professor Luiz Edmundo Campos.
Quando parte do prédio desabou, a reforma estava na segunda etapa. No total, a obra já havia consumido R$ 9 milhões dos cofres públicos. Na primeira intervenção, que custou R$ 8 milhões, foram recuperadas vigas e telhas do Teatro Iemanjá e do Espaço Orlando. Pouco mais de R$ 1 milhão já havia sido destinado para a segunda etapa.
O engenheiro civil Carlos Emílio Strauch, autor do projeto estrutural do equipamento, inaugurado em 1979, ele esteve presente na inspeção. Sobre a falta de manutenção do prédio, Strauch confirmou que há ‘muito tempo’ não eram feitas obras. “Já tinha um bom tempo que não me chamavam”, contou. Ao Ministério Público (MP-BA), o próprio engenheiro contou que, depois de muito tempo, foi chamado pelo governo para apontar as intervenções necessárias à reabertura do prédio.
Strauch disse à promotoria que há mais de 13 anos não eram feitos serviços de manutenção. “Ele ainda destacou que obras que estavam sendo realizadas naquele momento não seriam suficientes para a reabertura”, destacou a promotora Rita Tourinho, que acompanha o caso.
Meses antes, no início de 2015, um inquérito civil foi instaurado para apurar a omissão do estado na manutenção do espaço. “Até mesmo para evitar que se repetisse a tragédia anunciada da Fonte Nova”, lembrou a promotora. Recomendada pelo MP-BA, a Secretaria Municipal de Urbanismo (Sucom) pediu a interdição do prédio, que desde maio de 2015 está fechado.
Na época, até o Tribunal de Contas do Estado (TCE) determinou às autoridades responsáveis que fossem adotadas, com urgência, providências para sanear irregularidades identificadas na estrutura física. “Auditores haviam constatado a existência de corrosão acentuada nas estruturas metálicas, alagamentos, infiltrações, fiação exposta, além da falta de um Plano de Segurança”.
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ALVARÁ
Na segunda-feira, a Sucom qualificou a obra de reforma do local como irregular. O secretário Sérgio Guanabara disse que a prefeitura sequer foi procurada pelo estado ou pela empresa responsável pela obra para obter o alvará. “Somos o órgão licenciador. Qualquer obra precisa de licença”, comentou.
Ontem, o chefe da Casa Civil discordou. “Uma obra de reforma como aquela não depende da apresentação de um projeto para que o alvará seja liberado. Estava regular e todas as taxas para emissão do documento também tinham sido pagas, o que chancelou as intervenções no local”, declarou.