Lição de jogo limpo
Quem não sente vontade de voltar à infância e brincar mais uma vez, criando personagens e universos fantásticos? É o que fazem os irmãos Miguel, Manuela e Mateus, quando retornam ao sótão da casa dos avós, onde brincavam de piratas. Após encontrar um mapa do tesouro, e passar por um naufrágio, um ataque pirata e outras confusões, os três chegam a seu destino: uma ilha de dejetos. A situação se passa em uma peça teatral, servindo de mote para educar crianças sobre o ciclo do lixo.
O espetáculo Lixo à Vista! Uma Aventura Pirata aborda questões como o destino do lixo, a diferença entre aterro sanitário e lixão e os quatro ‘R’ dos resíduos (reduzir, reutilizar, reciclar e reeducar). A peça ainda ensina na prática como fazer coleta seletiva e até como funciona uma usina de biomassa. Embora sejam temas complexos, os atores fazem tudo ficar divertido. As cerca de 70 crianças que assistiram à estreia, ontem, no Espaço Cultural da Barroquinha, aprovaram. Elas bateram palmas, dançaram e até ajudaram os piratas, que são baseados na obra Piratas do Caribe.
“Achei legal porque foi bem engraçada. Aprendi que não pode deixar lixo à toa, e que tem que separar um lixo do outro”, comentou Cauan de Jesus, 7 anos. Quem também aprovou foi Rainan Miguel, 13. “Foi muito criativa. Ajuda a preservar o meio ambiente, a não jogar lixo em qualquer lugar, de qualquer jeito”. Os dois fazem parte da ONG Fatumbi, do Alto das Pombas. Outra ONG que levou crianças para a estreia foi a Bahia Street, que trabalha apenas com meninas.
A estratégia da Armazém Cultura e Entretenimento, responsável pela produção do espetáculo, foi falar pouco de lixo. A história dos piratas envolve as crianças, faz elas participarem da peça, abrindo espaço para o conteúdo. “Falar desses temas para as crianças acaba se tornando um pouco maçante. Eles têm aula sobre isso, fica repetitivo. Então criamos toda uma história por trás, dos três irmãos que recebem de herança a casa dos avós”, explica a atriz Patrícia Garcia. “Dessa maneira, eles já entram na atmosfera do espetáculo, conhecem os personagens e conseguem absorver melhor esse conhecimento”, completa o diretor Leonardo Roat, que também atua na peça.
O espetáculo é patrocinado por três empresas do grupo Solvi - a Revita, a Battre e a Termoverde -, além da Limpurb, através de edital da Lei Rouanet. Nascida no Rio Grande do Sul, já visitou mais de 60 cidades e foi vista por 17 mil pessoas. “A gente traz esse espetáculo para, de forma lúdica, abordar toda a tratativa atual do lixo. É um trabalho de educação ambiental, que a gente acredita que na criança surte um grande efeito”, afirma Fábio Andrade, gerente operacional da Revita. Segundo ele, a temporada em Salvador espera um público total de mil pessoas.
Segundo Patrícia, a iniciativa costuma provocar efeito imediato. “Teve uma apresentação que a gente explicou a coleta seletiva, e no final veio uma criança com um pacote de salgadinho e perguntou ‘pirata, e esse aqui vai aonde?’”, lembrou, aos risos.
O grupo ainda se apresenta hoje, amanhã e sábado, sempre às 9h30 e às 15h. A última sessão é no domingo, às 16h. As sessões de sábado e domingo são abertas ao público.
Além de Patrícia e Leonardo, também fazem parte do elenco Tiago Teles e Ricardo Paim.