Que prevaleça a ética
A possível entrada do Ceará na Copa do Nordeste por meio de uma virada de mesa é o que de pior pode acontecer para a competição. O ganho técnico não justifica nem compensa, em hipótese alguma, o atropelamento da ética e o prejuízo de um trabalho coletivo de sucesso em prol de um filiado que não conseguiu cumprir a meta exigida para disputar o torneio, que é se classificar através do campeonato estadual.
O esporte é feito de princípios e saber perder é um dos mais fundamentais. O episódio costurado entre o Ceará, a Federação Cearense de Futebol e mais três clubes do estado (o Uniclinic, que desistiu da vaga, o Guarani de Juazeiro e o Guarany de Sobral) é tão vergonhoso que não encontrou respaldo nos outros times que formam a Liga do Nordeste. Ainda bem.
Ontem, um dia após se falar mais da virada de mesa do que do sorteio dos grupos, realizado em João Pessoa, o Guarani de Juazeiro voltou atrás da sua “estranha” desistência e decidiu solicitar a vaga a que tem direito com a saída do Uniclinic, que, segundo consta, está ameaçado de fechar as portas em 2017. A nova justificativa do Guarani é de que a Federação Cearense havia informado que o clube não teria direito à cota que todos os participantes têm nem teria despesas de passagens e hospedagens pagas pela Liga do Nordeste caso aceitasse a vaga do Uniclinic. O que deixa duas possibilidades: ou a desculpa do Guarani é muito esfarrapada ou o papel da Federação Cearense no episódio é tão nefasto quanto o do Ceará.
O Ceará recorre a uma lógica que, infelizmente, é comum no Brasil: se não é ilegal está valendo, mesmo que seja imoral. E que o beneficie. Partindo daí, qualquer jeitinho torna-se válido, basta encontrar uma maneira oficial de justificar. No caso do Ceará, além de imoral, mostra que o clube, embora seja um sócio-fundador da Liga do Nordeste, age de acordo somente com seu interesse, e não com o fortalecimento do futebol nordestino, razão de ser da criação da liga de clubes.
Não é exagero afirmar que a Copa do Nordeste é o melhor torneio regional do Brasil. Como também não é exagero dizer que o caminho para alcançar esse status foi árduo. Começou com a edição isolada de 1994; de 1997 a 2002 foi um sucesso tão grande que sofreu interferência da CBF e das federações estaduais, insatisfeitas com a independência perigosa (para as federações) que o fortalecimento dos clubes em liga significava. Ainda sobreviveu moribunda em 2003 e em seguida acabou. Só voltou a ser disputada em 2010, resultado de uma longa batalha judicial, em outra edição isolada, feita às pressas, sem estrutura e ainda sem prestígio, tanto que o campeão Vitória jogou a final com time reserva.
O ressurgimento se deu de 2013 pra cá, quando ganhou um patrocinador que queria crescer no mercado e viu na ‘Lampions League’ a oportunidade, caso do Esporte Interativo. O Nordestão recuperou o status que tinha em 2002, caiu no gosto do torcedor, incluiu os nove estados da região, ganhou uma vaga na Copa Sul-Americana. Com cotas de R$ 505 mil para cada um dos 20 clubes só na primeira fase e todas as despesas pagas de passagem, hospedagem e alimentação, virou a única competição rentável para os clubes da região no primeiro semestre. E o crescimento não para: em 2017, o torneio terá de fato uma abrangência nacional, graças à recente inclusão do EI na Sky e NET, principais operadoras de TV por assinatura do país.
A Copa do Nordeste, hoje, significa credibilidade, jogos de nível técnico maior que os estaduais, gosto popular e consequente audiência, rentabilidade. Uma virada de mesa significará anos de retrocesso.
O Ceará recorre a uma lógica que, infelizmente, é comum no Brasil: se não é
ilegal está valendo, mesmo que seja imoral. E que o beneficie. Partindo
daí, qualquer jeitinho torna-se válido, basta encontrar uma maneira
oficial de justificar.