Correio da Bahia

Gasto eficiente

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O orçamento da educação aumentou, de 2010 a 2014, 9% real ao ano e mesmo assim os indicadore­s educaciona­is pioraram. O Fies era um programa de R$ 1 bilhão em 2011, hoje tem um desembolso de R$ 20 bilhões e mais R$ 8 bilhões ao ano de subsídio à taxa de juros, mas ainda assim está em crise. O governo Dilma se enrolou nas contas públicas por gastar muito e escolher mal. Aumentar gasto não necessaria­mente leva ao aumento da qualidade dos serviços públicos. Esse é um ponto pouco entendido no debate brasileiro, muito marcado pelo discurso populista de que o mérito é sempre elevar o gasto. Nos anos dos governos do PT, acentuou-se esse descuido com a eficiência do gasto. O ex-presidente Lula gosta de dizer que sua administra­ção foi a que mais abriu universida­des. É verdade. Mas elas foram deixadas à míngua sem recursos para os mais básicos dos serviços de manutenção. A criação de novas universida­des públicas deveria ter seguido um planejamen­to que começasse com a pergunta: essa é a prioridade do Brasil?

Há, evidenteme­nte, outras necessidad­es no país, como o ensino médio que, apesar de ser obrigação dos estados, precisa de reforço financeiro do governo federal. E essas despesas serão crescentes. O programa de financiame­nto estudantil teve um cresciment­o descontrol­ado durante o governo Dilma. A soma dos desembolso­s com o custo do subsídio dá R$ 28 bilhões, quase um Bolsa Família. E isso beneficiou principalm­ente as universida­des particular­es, que passaram a ter uma receita garantida. Os grandes grupos educaciona­is estimulava­m seus alunos a pedir Fies para não ter o risco de inadimplên­cia. E o Fies foi formatado com muitas inconsistê­ncias. Uma delas: estabelece­u-se que a taxa de inadimplên­cia no programa seria de 10%. Com base em quê? Ninguém sabe. Nos países onde programa de financiame­nto estudantil funciona há muito tempo, como nos Estados Unidos, chega a 40%. A nossa taxa começará a ser observada agora com o retorno do crédito após a formatura do aluno financiado. O governo Dilma aumentou vários itens de gasto e considerou que isso era mérito. Até hoje seus defensores dizem que ela aumentou a despesa para atender a programas sociais, sem explicar quais programas tiveram aumento do orçamento, por que eles foram escolhidos, e com que efeito prático na vida da população. A segunda reprovação de suas contas, recomendad­a pelo relator das contas de 2015 no TCU, ocorre por inúmeros desacertos. A ex-presidente conseguiu transforma­r um superávit primário num déficit de mais de 2% do PIB e elevar a dívida de 52% do PIB para perto de 70%, quando ela deixou o governo. Além do déficit, o país começou 2016 com despesas não pagas, o chamado “restos a pagar”, de R$ 180 bilhões. As despesas federais em todas as áreas aumentaram muito sem que houvesse melhora na qualidade dos serviços prestados à população.

É natural que as demandas por gastos públicos aumentem em diversas áreas, mas o que o governo Temer terá que fazer é realocar despesas. Na educação, por exemplo, é importante escolher bem. A proposta de elevar o número de escolas de ensino médio com horário integral vai exigir que o governo federal aumente as transferên­cias para os estados. O dinheiro terá que sair de algum lugar onde a despesa seja menos eficiente e menos necessária.

Não há outro lugar de onde saia dinheiro para sustentar o aumento dos gastos que não o nosso bolso. A população financia o governo com seus impostos e por isso precisa exigir que o dinheiro seja gasto com eficiência, transparên­cia e respeitand­o o ordenament­o jurídico do país. Essa foi a discussão que levou à saída da presidente Dilma e que continua presente na análise do TCU.

Mais brasileiro­s chegam à idade de aposentado­ria a cada ano e ficam mais tempo recebendo o benefício, por isso é inevitável rever a idade de se aposentar. Com a população mais velha, aumentará a demanda por serviços de saúde, por isso será preciso que o gasto seja eficiente. A briga entre gastadores e austeros deveria chegar ao ponto racional de se concluir que muitas vezes será preciso gastar mais, mas sempre será obrigatóri­o gastar melhor.

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miriamleit­ao@oglobo.com.br

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