O filho de João Dória
O título não é o que parece. O título certo seria “O pai de João Dória”, já que é dele que vou falar neste artigo: um baiano de muitos méritos, porém, pouco conhecido, não apenas aqui na sua terra natal como também em São Paulo, onde residiu por muitos anos. João Dória, o pai do prefeito eleito de São Paulo, nasceu em Salvador em 1919, filho de Nelson Costa Doria e Maria Geraldina de Oliveira, ela prima de Ruy Barbosa. Faleceu em 1992 e então era o presidente do Instituto Mind Power.
Foi jornalista, publicitário, político e psicólogo com bacharelado feito na Sorbonne e mestrado na Universidade de Susex, durante seu exílio, após ter o seu mandato de deputado federal pelo PDC cassado pela ditadura, em abril de 1964. Cedo deixou a terra natal para fazer carreira como publicitário, revelando um incrível talento para a promoção de vendas. Foi ele o idealizador da celebração do Dia das Mães e do Dia dos Namorados, no Brasil; datas promocionais que começaram a ser celebradas no país a partir de um trabalho realizado junto aos grandes varejistas, inspirado em ações semelhantes praticadas nos Estados Unidos. Na Bahia, Otávio de Carvalho inspirou-se em Dória quando lançou, pela recém-criada agência de propaganda Publivendas, o concurso de vitrines do Dia das Mães em 1956.
E foi justamente em 1956 que Dória desenvolveu o mais ousado plano estratégico de turismo para a Bahia já realizado em todos os tempos. Um trabalho visionário para a época, no qual identificava o potencial das chamadas festas de largo e outras que não tinham essa característica como a da Boa Morte de Cachoeira e também do Carnaval, dentre outros ativos culturais identificados. Tive a sorte de encontrar, não lembro se não Instituto Histórico ou no Arquivo Municipal, uma cópia desse trabalho que conhecia apenas de ouvir falar. O plano era ambicioso, previa obras de infraestrutura, investimentos de Cr$ 200 milhões e visava como público preferencial cariocas e paulistas.
O prefeito Hélio Machado aprovou o plano, mas o implementou em parte. Na prática, o único resultado dessa promoção do produto turístico Bahia foi o Baile do Galo Vermelho, realizado a partir de 1956 até 1960 no Hotel da Bahia, abertura oficial do nosso Carnaval. O primeiro deles trouxe do Sul do país, em cinco voos fretados, a nata de representantes do empresariado, colunáveis e da mídia. Dória encomendou a ilustração do convite ao grande artista cearense Aldemir Martins e a decoração do hotel ao trio de artistas: Carybé, Mario Cravo e Genaro de Carvalho. As revistas semanais, Cruzeiro e Manchete, repercutiram o evento com ampla cobertura.
O chileno Lucho Gatica era então um dos ídolos da música latino-americana, pela mesma época, quando Dória teve a ideia de lançar uma promoção das lojas de calçados Clark. O cantor distribuiu centenas de autógrafos enquanto a mão dele aguentou, perante um público que, na fila, dobrou quarteirões. Outras iniciativas promocionais de sua autoria, de grande impacto no Brasil, foram a venda de cadeiras cativas no Maracanã e o concurso Miss Suéter para gerar tráfego de vendas na Mesbla. O publicitário foi diretor da Standard Propaganda antes de criar a sua própria agência, quando lançou uma campanha de grande sucesso na época, cujo objetivo era combater a sonegação de impostos.
Na política, para fazer jus ao seu feeling promocional, enveredou pelo marketing eleitoral, assessorando as campanhas de Cid Sampaio ao governo de Pernambuco, em 1958, e de Juracy Magalhães, afiliado que disputou com Jânio Quadros a convenção para a escolha do candidato da UDN à Presidência da República. Foi de Dória o slogan de Juracy: “A UDN não precisa de vassoura. Juracy é limpo”, um contraponto da faxina prometida pelo adversário.
Foi ele o idealizador da celebração do Dia das Mães e do Dia dos Namorados, no Brasil; datas promocionais
que começaram a ser celebradas no país a partir de um trabalho realizado junto aos grandes
varejistas