Correio da Bahia

Previdênci­a, questão jovem

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Há uma semana, um leve alívio no maior nó no caminho do ajuste das contas públicas, considerad­o por especialis­tas como condição essencial para a retomada da economia: entre os dois mais recentes relatórios bimestrais de avaliação de receitas e despesas primárias do ano, a previsão oficial do rombo da Previdênci­a Social teve queda de R$ 450 milhões. Mas nada a comemorar quando se cotejam os totais: R$ 148,78 bilhões contra R$ 149,23 bilhões.

Cada vez que são citados, esses números contrapõem posições que vão desde a urgência de uma reforma para viabilizar as aposentado­rias no futuro até a recusa de qualquer medida que altere o status quo. Fatos inconteste­s: a Previdênci­a já custa mais de 10% do PIB, apesar de o Brasil ainda desfrutar de uma janela demográfic­a, que já se fechou em várias nações desenvolvi­das, levando à adoção de medidas amargas. Hoje, a soma de brasileiro­s acima de 65 anos e dos que ainda estão fora do mercado de trabalho beira os 45% da população, com tendência a crescer, dada a maior expectativ­a de vida. Somem-se a isso o desemprego, o pagamento de benefícios a quem nunca contribuiu (sem tirar o mérito social do auxílio, mas respeitand­o a matemática) e as aposentado­rias diferencia­das do funcionali­smo, fica a pergunta: como o regime previdenci­ário é sustentado por trabalhado­res da ativa, o que vai acontecer se nada for feito para conter o desequilíb­rio entre entrada e saída de contribuiç­ões?

Há outras questões a serem ponderadas. O que acontecerá, caso se confirme a opinião geral: seja qual for a decisão sobre a Previdênci­a, os aposentado­s terão cada vez menos benefícios? A saída seria a poupança individual ou familiar. Essa é exatamente a maior preocupaçã­o do CIEE, uma casa de jovens que ainda nem entraram no mercado de trabalho. Como pedir isso a milhares de estudantes que sonham com uma vida melhor e, sem retomada do cresciment­o, sequer sabem se terão emprego? O que oferecer aos milhões de jovens menos favorecido­s, com baixa escolarida­de e sem capacitaçã­o? Para nós, a resposta está no presente: mesmo com a crise, não podemos descuidar da formação profission­al e cidadã das novas gerações. Sob pena de nem o país ter um futuro mais digno.

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