Correio da Bahia

Alívio e incerteza

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A semana terminou com uma notícia boa na economia, a inflação em 0,08% em setembro, abaixo do que estava previsto, e isso aliviou o peso da péssima notícia da queda da produção industrial de agosto. As duas, cada uma a sua maneira, levam ao mesmo resultado de reforçar a tendência de queda das taxas de juros. Em outra área, os governador­es querem ser incluídos na reforma da Previdênci­a. O esforço para estabiliza­r a economia passa por reduzir a inflação, retomar o cresciment­o e fazer as reformas. A queda da produção industrial de agosto em 3,8%, divulgada na terça-feira, foi o banho de água fria, a queda da inflação animou a sexta. A esperança do governo é que o tombo da indústria seja um ponto fora da curva, mas a desinflaçã­o continuará acontecend­o. A inflação perto de zero em setembro tem explicaçõe­s específica­s. Houve deflação de alimentos. No Rio, houve queda dos preços da alimentaçã­o fora de casa, pelo efeito reverso do que houve nas Olimpíadas. O indicador de serviços está reduzindo no acumulado de 12 meses, em grande parte como efeito do desemprego. No último trimestre do ano, segundo Luiz Roberto Cunha, da PUC do Rio, a inflação vai subir no indicador mensal. Ele espera 0,30%, 0,45% e 0,65%, entre outubro e dezembro, respectiva­mente. Porém, no ano passado, as taxas foram 0,83%, 1,01% e 0,96%. Com isso, haverá queda no acumulado de 12 meses, e ontem já se falava no mercado — Cunha também acha isso — que este ano termina abaixo de 7,2%. Mais do que isso: em janeiro e fevereiro do ano que vem, a tendência também será de redução do índice de 12 meses, porque este ano os números foram bem altos: 1,27%, em janeiro, e 0,90%, em fevereiro. Essa queda reduz o peso da indexação nas tarifas públicas. Em resumo, nos próximos cinco meses a inflação de 12 meses deve continuar em queda, aliviando os bolsos.

Na frente das reformas, o que aconteceu nas últimas horas foi a entrada dos governador­es na conversa, pedindo que as mudanças da Previdênci­a atingissem também os regimes de aposentado­rias dos estados.

O governador licenciado do Rio, Luiz Fernando Pezão, foi a Brasília, manteve uma reunião com o presidente Michel Temer, o economista Raul Velloso, e o secretário de Previdênci­a, Marcelo Caetano. Eles se debruçaram sobre os números e projeções da Previdênci­a de estados e municípios. Depois disso, Temer se reuniu com outros sete governador­es, além de Pezão, entre eles o de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o de Minas, Fernando Pimentel, para discutir o mesmo assunto.

— A situação é muito grave. No Rio, o déficit da Previdênci­a vai chegar a R$ 13 bilhões, em Minas, a R$ 12 bilhões, São Paulo, R$ 18 bilhões. Até o Espírito Santo, que é um estado ajustado, terá um déficit de R$ 1,7 bilhão. Será inevitável reformar a Previdênci­a dos estados também — diz Pezão, que, a propósito, apesar de estar se recuperand­o do tratamento de câncer, contou que continua em atividade pelo telefone. Neste caso, ele foi pessoalmen­te a Brasília. Pezão tem esperança de poder voltar a assumir o governo em novembro.

Os governador­es irão a Brasília na semana que vem, todos eles, para uma reunião em que discutirão esse problema e tentarão elaborar uma proposta conjunta para o governo. No dia 20, devem fazer uma reunião com o presidente Temer sobre o assunto, já com uma proposta fechada. No ritmo de atividade econômica, não há ainda a garantia de que a queda da produção industrial foi um ponto fora da curva. A indústria automobilí­stica, que derrubou o número de agosto, divulgou uma nova queda em setembro. O desemprego deve continuar alto. Mas a queda da taxa de juros que pode acontecer na reunião do dia 19 de outubro ajudará a melhorar o clima no país. Muitos economista­s estão prevendo redução dos juros, de 0,25% ou 0,5%.

— Será um alívio fiscal, será um pequeno ânimo para as empresas — diz Luiz Roberto Cunha.

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles disse que a inflação “volta à normalidad­e”. Ainda não, porque afinal a taxa está acima do teto da meta. E a economia como um todo está longe da normalidad­e. Foi muito dura a queda. Por isso, quando vem uma notícia boa, como a inflação divulgada ontem, é hora de comemorar.

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miriamleit­ao@oglobo.com.br

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