A luz da noite
Na Galeria Acbeu, exposição inédita de Edgard Oliva, resultado de seu doutoramento realizado na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, na linha de pesquisa Poéticas Interdisciplinares. A expo é nomeada Quando a Noite Encontra o Dia e fica em cartaz até 29 de outubro.
Fotografia significa desenhar com luz e contraste, é a técnica de criação de imagem por meio de exposição luminosa, fixando-as numa superfície sensível. A invenção da fotografia não é uma obra de um só autor, e sim um processo acumulativo de avanços por parte de muitas pessoas, trabalhando juntas, ou em paralelo, ao longo de muitos anos.
Se, por um lado, os princípios fundamentais da fotografia se estabeleceram há décadas e, desde a introdução do filme fotográfico colorido, quase não sofreram mudanças, por outro, os avanços tecnológicos têm sistematicamente possibilitado melhorias na qualidade das imagens produzidas, agilização das etapas do processo de produção e a redução de custos, popularizando o uso da fotografia. A introdução da tecnologia digital tem modificado os paradigmas que norteiam o mundo da fotografia.
Os equipamentos, ao mesmo tempo em que são oferecidos a preços cada vez menores, disponibilizam ao usuário médio recursos cada vez mais sofisticados, assim como maior qualidade de imagem e facilidade de uso. A simplificação dos processos de captação, armazenagem, impressão e reprodução de imagens proporcionadas intrinsecamente pelo ambiente digital, aliada à facilidade de integração com os recursos da informática, como organização em álbuns, incorporação de imagens em documentos e distribuição via Internet, tem ampliado e democratizado o uso da imagem fotográfica nas mais diversas aplicações. A incorporação da câmera fotográfica aos aparelhos de telefonia móvel tem, definitivamente, levado a fotografia ao cotidiano particular do indivíduo.
Dessa forma, a fotografia, à medida que se torna uma experiência cada vez mais pessoal, deverá ampliar, através dos diversos perfis de fotógrafos amadores ou profissionais, o já amplo espectro de significado da experiência de se conservar um momento em uma imagem. Uma imagem guarda em si uma memória que é registrada em frações de segundo para a permanência. A permanência de algo beira a eternidade, acompanha o tempo.
Quando a Noite Encontra o Dia apresenta imagens únicas inspiradas pela luz e sombras das noites iluminadas pela lua ou pelo jogo de cores e sombras do final do dia, capturadas pelas lentes do artista em ambientes rurais e periféricos que foram propositalmente escolhidos para evitar a interferência da iluminação artificial das grandes cidades e também para permitir os momentos de introspecção e criação do autor.
O anoitecer dilui o contorno dos objetos, revela uma atmosfera de estranhamento e surgem os mistérios. Algo inexato que busca sensações particulares, lembranças, fiapos do que foi, do que não mais está.
As fotografias têm tamanhos variados, entre 28 cm x 38 cm e 73 cm x 110 cm. A curadoria é de Cláudia Pôssa, professora aposentada da Universidade Federal da Bahia e doutora pela Universidade de Barcelona, com tese sobre a obra fotográfica de Pierre Verger. Edgard Oliva nos apresenta imagens escuras onde oferece uma cadeira vazia como centro das atenções, horizonte levemente clareado. Amontoados de lixo no chão, com carrinho de bebê na linha do horizonte, árvores de troncos retorcidos capturados de baixo para cima, arbustos com pano de fundo formado por nuvens. As fotos ficam entre a figuração e a abstração, num diálogo de grande beleza. Com sua primeira câmera, o mundo passou a ser seu cenário. Treinou o olhar, cidadezinhas do interior passaram a lhe interessar, depois viagens para grandes metrópoles no Brasil e o exterior em caráter de estudos e expondo como artista visual: Alemanha, França, Holanda, Portugal, Bélgica. Edgar Oliva hoje acumulou um bom grau de informação e cuida de sua carreira com zelo e persistência.