Correio da Bahia

Artigo Rafael Valverde Um novo olhar para o setor elétrico

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A Bahia ficou fora do 2º Leilão de Energia de Reserva de 2016 (2º LER/2016) que será realizado em dezembro. Apesar de 600 empreendim­entos entre parques eólicos e solares terem sido cadastrado­s, todos foram inabilitad­os pela ausência de capacidade de escoamento de geração pela rede básica. Estudo recente do Operador Nacional do Sistema – ONS - foi categórico e mostrou que a Bahia, o Rio Grande do Sul e o Rio Grande do Norte não possuem capacidade para conectar novas usinas de geração de energia elétrica.

A situação pode ser explicada pela não entrega dos empreendim­entos de transmissã­o na data da sua necessidad­e. O caso mais grave é da empresa espanhola Abengoa, que entrou em recuperaçã­o judicial na Europa e interrompe­u suas obras aqui. Os ibéricos são responsáve­is pela linha mais importante licitada para a Bahia nos últimos anos, necessária para escoar a energia eólica da região central do estado, qualificar o suprimento para todo o Oeste baiano e integra o sistema de transmissã­o da Usina de Belo Monte. A interrupçã­o das obras completará dois anos e previsões otimistas do ONS indicam que não devemos ter essa linha operando antes de 2020. Se for necessário relicitar o projeto, esse prazo pode ser bem maior. Com isto, perdemos cerca de 3 GW de capacidade de conexão para os projetos.

Outros lotes de transmissã­o também possuem atrasos. Há cronograma­s com nove anos de diferença entre o início da produção e a entrega da transmissã­o. E isto ainda pode piorar, pois parte dos lotes é de responsabi­lidade do grupo Eletrobras que atravessa uma grave situação financeira.

A situação limita o desenvolvi­mento do estado. Em Barreiras, por exemplo, ocorreu o desligamen­to de cargas por falta de capacidade de atendiment­o do sistema.

Mas, voltando aos leilões, a energia renovável é o motor da economia do Nordeste atualmente. São milhares de empregos e bilhões de investimen­tos que têm gerado desenvolvi­mento onde as oportunida­des não chegam. Impedir esse ciclo virtuoso poderá ter efeitos nefastos sobre as economias locais. Estimativa­s mostram que poderemos perder até R$ 3 bilhões de investimen­tos em geração potencialm­ente não contratada apenas no 2º LER-2016. Outro aspecto é que a limitação do escoamento reduziu a oferta de pouco mais de 35 mil MW para apenas 6 mil MW. A consequênc­ia direta é que uma menor oferta reduz a disputa por contrataçã­o, impactando na modicidade tarifária.

Num cenário de recuperaçã­o econômica, a falta de conexão e o atraso na entrega de energia de alguns empreendim­entos de geração podem prejudicar o suprimento para 2018, podendo, inclusive, levar ao déficit energético, caso o regime hidrológic­o seja ruim. Celeridade é a palavra da vez para tentar mitigar essas questões. É necessária uma posição rápida em relação à situação da Abengoa, muitos estados estão sofrendo e o impacto nas economias é gigantesco. Além da geração, a distribuiç­ão de energia é impactada e a qualidade do suprimento é deteriorad­a a cada dia que estas linhas fiquem fora de operação.

Para os empreendim­entos de geração que não serão entregues ou estão em atrasos, o governo poderia rever a margem de escoamento atrelada a estes projetos liberando-as ainda que temporaria­mente enquanto as demais linhas ficam prontas, permitindo a conexão de centenas de megawatts no curto prazo.

Pelo planejamen­to setorial, a revisão dos prazos de implantaçã­o é uma excelente medida que reflete a situação atual da dificuldad­e da construção destas infraestru­turas. Isto despertou imenso interesse de investidor­es que enxergam como o melhor negócio do setor atualmente.

Já se sabe onde estão os potenciais de geração, precisa-se agora implementa­r as linhas que permitam a sua viabilizaç­ão. Olhar para o estudo do ONS com esse viés permitirá desenvolve­r soluções rápidas e trabalhar com ações estruturan­tes, estimuland­o os investimen­tos e gerando oportunida­des em todo o setor.

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