Correio da Bahia

Livraria de todos

- MARIA LANDEIRO

Ontem, na casa número 12, da Rua Teixeira de Barros, em Brotas, um caminhão era abastecido com uma carga valiosa. Na manhã de hoje, o carregamen­to de 50 mil livros está sendo transporta­do para Cachoeira, no Recôncavo, para ser distribuíd­o gratuitame­nte durante a 6ª edição da Festa Literária internacio­nal de Cachoeira (Flica).

A ação faz parte do projeto Ler na Praça, fundado há 18 anos pelo ex-escoteiro Lázaro Planzo, 54. “O caminhão vai na frente e eu vou de carro, fazendo uma trilha literária, distribuin­do livros por mais de 30 pontos no caminho para Cachoeira”, contou ele.

A esposa, Rosélia Sandes, 39, lembra que no ano passado não deu para quem quis: “Fomos com três kombis só de livro, e não deu pra todo mundo”. A trilha literária inclui cidades como Simões Filho, Candeias, São Sebastião e Santo Amaro.

Na casa de Lázaro, o acervo de mais de 100 mil volumes tem edições raras e também sucessos. Todos foram doados a ele, que repassa a qualquer um que passe por lá. A estudante Débora Cristina, 20, se prepara para o vestibular e sempre vem pegar livros no vizinho. “Aqui tem mais variedade que qualquer livraria”, brinca.

E pensar que tudo começou com uma boa ação exigida pelo chefe dos escoteiros. “Como escoteiros, sempre temos que fazer uma boa ação, e um dia sonhei com meu chefe me cobrando isso. Eu tinha várias revistas em casa e distribuí para as pessoas na praça, depois comecei a comprar livros e então vieram as doações”, explica.

Com tantas opções à mão, Lázaro não esconde que seus preferidos são os épicos e filosófico­s. “Gosto de ler coisas de antes de Cristo: Sócrates, Platão... Pra mim, livro bom é o que me faz chorar”.

O projeto Ler na Praça é registrado no Ministério da Educação, mas ainda não tem nenhum apoio governamen­tal. “A minha maior dor são os poderes públicos não fazerem esse tipo de política”, reclama Lázaro, que mantém a iniciativa através de editais e da renda própria. Com apoio, tudo mudaria. “Poderia catalogar e guardar em local apropriado”, lamenta.

Apenas das dificuldad­es, Lázaro Planzo se declara um homem milionário. “Eu sempre gostei de ler, mas não tinha dinheiro para comprar livros. Hoje leio todo tipo de coisa sem pagar nada e ainda dou para os outros”.

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Fundado há 18 anos, pelo ex-escoteiro Lázaro Planzo, 54, o projeto Ler na Praça reúne 100 mil volumes que são distribuid­os gratuitame­nte para quem tiver interesse em literatura
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