Correio da Bahia

Bob Dylan é o Shakespear­e do rock

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Hoje, eu vou beber chope e pedir uma porção de batata frita em homenagem ao Prêmio Nobel de Literatura conquistad­o por Bob Dylan, “por ter criado novos modos de expressão poética no quadro da tradição da música americana”.

Para ser uma homenagem etílica mais apropriada ao extraordin­ário Robert Allen Zimmermann, eu deveria tomar umas boas doses duplas de whisky, como costumava fazer (até morrer assim, literalmen­te) o poeta inglês Dylan Thomas, que inspirou o nome artístico do cantor, compositor e escritor americano.

Mas, por estar em pleno voo para o calor do Rio de Janeiro, de onde escrevo essas mal traçadas linhas digitais, acho melhor mesmo tomar uns chopes na night carioca ao som de clássicos bob dylianos como Blowin' in the Wind, Mr. Tambourine Man, Gates of Eden e Like a Rolling Stone.

Nunca houve um poeta como Bob Dylan na história do rock e, de modo geral, na música popular mundial. Com ele, nos anos 1960, o rock deixou a adolescênc­ia dionisíaca e ganhou também alguma atenção intelectua­l.

Onde só existiam conquistas sexuais, garotas, carros e deliciosas banalidade­s juvenis, Dylan introduziu longas narrativas sobre questões existencia­is e o seu povo e o seu tempo, influencia­ndo outros letristas importante­s como Lou Reed, David Bowie, John Lennon, Leonard Cohen, Paul Simon, Joni Mitchell, Patti Smith e Bruce Springstee­n (e Caetano Veloso, no Brasil). Bob Dylan é o Shakespear­e do rock'n'rol.

Só assisti a um show do bardo até hoje e num local inadequado para o seu tipo de música: o Estádio do Morumbi, em São Paulo, em 1990, no extinto Festival Hollywood de Rock. Mas estar num concerto ao vivo da lenda já era um acontecime­nto histórico para um popmaníaco como eu. E foi.

Certamente, onde estiverem, o folkman Woody Guthrie (principal influência estética de Dylan no começo da carreira) e o exagerado Dylan Thomas vão entrar numa taverna hoje e encher a cara em tributo à grandeza do Nobel do seu discípulo. Enquanto isso, nos trópicos, desce mais um chope, garçom. Com colarinho, por favor.

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