A gangorra tem explicação
Nos últimos 11 anos, eles ganharam dois Mundiais de clubes da Fifa, venceram a Libertadores três vezes e levantaram a taça do Brasileirão em cinco oportunidades. Hoje, lutam desesperadamente contra o rebaixamento. São os casos de São Paulo, Internacional e Cruzeiro. Por que clubes passam por tamanho sofrimento?
Cada um tem motivos específicos que ajudam a entender a derrocada, mas a origem dos problemas é a mesma. É a má gestão que leva gigantes a ter temporadas de nanicos.
No São Paulo, a crise é reflexo da instabilidade política e do enfraquecimento do poderio financeiro. Em 2013, o tricolor paulista foi o que mais ganhou dinheiro no país. Ano passado, caiu para quarto. O Cruzeiro gastou o que não tinha para ser bicampeão brasileiro há dois anos. Teve que vender boa parte daquele elenco para pagar dívidas e hoje está a apenas três pontos da degola.
O Inter foi o terceiro clube que mais lucrou com venda de jogadores em 2015: R$ 94 milhões. Isso é mais do que o Bahia arrecadou somadas todas as suas receitas ano passado (R$ 89,2 milhões). Mesmo com muita grana em caixa, o colorado montou um elenco fraco e chegou a ficar 85 dias (14 rodadas) sem vencer no Brasileirão.
São Paulo, Inter e Cruzeiro não são as únicas vítimas de seus cartolas. O Botafogo que brigou pelo título em 2013, com Seedorf, foi rebaixado no ano seguinte, em parte por causa da extravagância financeira feita para ter o holandês. O Corinthians, campeão do ano passado, é só o oitavo este ano. O Timão viu-se obrigado a se desfazer das estrelas e não teve grana para repor à altura porque sofre para pagar o financiamento de seu estádio. Em 2013, o Fluminense, campeão do ano anterior, só não foi rebaixado por causa de ilegalidade na escalação de um jogador da Portuguesa. A Lusa acabou degolada no lugar dos cariocas.
Com raríssimas exceções, é difícil ver regularidade de um ano para o outro na parte de cima da tabela. Isso detona a previsibilidade da competição, é verdade, mas também denuncia o quão mal administrados são os clubes.
Do outro lado estão times que priorizaram o equilíbrio das contas, através de um esforço cada vez maior para sanear dívidas e de uma gestão financeiramente mais racional. São os casos do Palmeiras e do Flamengo, os líderes da atual edição. O Palmeiras não usa o dinheiro do presidente, o milionário Paulo Nobre, somente para contratar jogadores. Usa-o também para diminuir o passivo. É o clube que mais arrecada com os sócios e lucra com seu estádio. O Flamengo não depende de um mecenas, mas a cartolagem atual conseguiu equilibrar os cofres com uma política de pés no chão.
A má gestão não é exclusividade da elite. Em 2015, o Vasco arrecadou mais que Fluminense, Santos, Atlético-PR, Botafogo, Sport, Coritiba, Chapecoense e Ponte. Esses rivais se mantiveram na Série A e o cruzmaltino caiu. Em 2016, mesmo tendo o maior orçamento, o Vasco está a quatro pontos da liderança e ainda corre o risco de não subir em sua segunda passagem pela Série B nos últimos três anos. Outro exemplo de orçamento gordo e eficiência magra é o Bahia. Vice-líder em receita, o tricolor está fora do G4 a sete rodadas do fim da atual edição. Apesar de um crescente processo de profissionalização dos cartolas, ainda tem muita gente despreparada dando as cartas no nosso futebol. Um dos problemas é que os clubes não investem na formação de gestores. Dos últimos diretores de futebol da dupla Ba-Vi, por exemplo, quantos são oriundos dos quadros dos próprios clubes? Nenhum. É mais cômodo importar cartolas que formá-los. O problema aí é que fica-se à mercê de oportunistas incompetentes que não têm nenhum vínculo com a instituição e a conhecem pouco. Enquanto eles se revezam no comando dos nossos clubes, Bahia e Vitória não saem do lugar.
São Paulo, Cruzeiro e
Inter têm motivos específicos que ajudam a entender a derrocada,
mas a origem dos problemas é a mesma: a
má gestão