Um perigo que mora na sarjeta
Um homem trajando colete laranja levanta a tampa de uma boca de lobo em uma manhã ensolarada na Praça Ana Lúcia Magalhães, na Pituba. Outro usa um aparelho esquisito para sugar algo do bueiro. A cena inusitada é apenas uma ação de combate ao mosquito Aedes aegypti promovida pelo Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), órgão da Secretaria Municipal da Saúde (SMS). O aspirador, que serve para coletar os mosquitos transmissores da dengue, chikungunya e zika, ajuda pesquisadores a identificar o peso que cada criadouro tem para a infestação de mosquitos daquela área. Até anteontem, 72 bocas de lobo tinham sido inspecionadas e foram encontradas larvas em 14% delas.
A ação faz parte de um projeto piloto do CCZ, iniciado no último dia 11, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz) e a Universidade Federal da Bahia (Ufba). Até sexta-feira, os agentes do CCZ, acompanhados pelos pesquisadores, vão coletar espécimes do Aedes aegypti e Aedes albopictus – os mosquitos transmissores das três arboviroses — em uma área que compreende os bairros da Pituba e do Itaigara.
O objetivo é capturar os espécimes, em forma adulta ou de larva, em qualquer área pública e também nos imóveis. Após a coleta, os pesquisadores vão analisar a contribuição de cada criadouro para a reprodução dos mosquitos.
“Queremos entender o quanto é importante esse tipo de criadouro (bocas de lobo). Precisamos entender melhor a capacidade da produção em comparação a outros tipos, para que a gente possa fazer uma política pública voltada para esse criadouro”, explica o infectologista Guilherme Ribeiro, pesquisador da FioCruz e da Ufba.
Para ele, pode ser preciso fazer uma atualização no sistema de drenagem da cidade, pois bueiros mais novos não retêm água. “É uma intervenção de engenharia sanitária. Em uma cidade com o porte de Salvador, é um investimento grande. Por isso, precisamos ter uma informação mais sólida sobre as bocas de lobo”.
A coordenadora do CCZ, Isabel Guimarães, conta que os bueiros eram ocasionalmente tratados, em ações especiais antes e após festas populares. “Bocas de lobo são es-
Bueiros viram alvo de operação por esconder dengue: 14% contêm focos