O travesti do Brasil
Nascida Astolfo Barroso Pinto em Cantagalo, no Rio de Janeiro, há 73 anos, Rogéria se autodefine como “o travesti da família brasileira”. A aparente contradição deixa de existir diante da vida cinematográfica dessa artista querida pelas senhorinhas de Copacabana e que lança a biografia Rogéria Uma Mulher e Mais um Pouco (Estação Brasil | R$ 44,90 | 271 págs.)
Quem vê Rogéria entrando no restaurante La Fiorentina, no começo da tarde primaveril no bairro onde mora, o Leme, não imagina que aquela bonita senhora loira é, na verdade, um senhor.
“Um travesti precisa de inteligência e talento para saber que não é mulher de verdade. Só tenho duas preocupações com o visual: não parecer prostituta, nem homem vestido de mulher”, afirma, com a experiência de quem nunca escondeu a sua sexualidade e começou a vestir roupas de mulher aos 12 anos, em Niterói.
Inaugurada em 1957 e frequentada por personalidades como Ary Barroso, Jô Soares, Chico Anysio, Glauber Rocha, Brigitte Bardot, Grande Otelo Jean-Paul Belmondo e Rita Hayworth, La Fiorentina é o lugar adequado para Rogéria nos receber. Ela, que sonhava em ser Marilyn Monroe e Bette Davis, também tem a sua assinatura e quadro com fotografia nas paredes estelares do restaurante.
MARILYN
“Trago uma Marilyn Monroe até hoje dentro de mim e também algo de Bette Davis. Sempre sonhei grande, nunca quis ser uma a mais”, conta Rogéria que, antes de adotar o nome artístico que a tornou famosa, maquiou estrelas do rádio e da TV como Emilinha Borba, Marlene (com quem artisticamente se identificava mais), Dalva de Oliveira, a grande amiga Elizeth Cardoso, Sérgio Britto, Fernanda Montenegro e Glauce Rocha. Maquiador Rogéria (Astolfo Barroso Pinto) começou a carreira maquiando estrelas como Emilinha Borba na TV Rio, em 1964 LivroAmigo de Rogéria, o economista e escritor carioca Marcio Paschoal foi escolhido pela estrela para escrever a sua biografia Rogéria tem 73 anos e é um ícone do transformismo, tendo conquistado espaço no teatro, na televisão e no cinema do país
Glauce Rocha, aliás, vivia lhe dizendo na TV Rio: “Rogéria, seu lugar não é aqui, você precisa ir para Paris”. E foi o que o transformista carioca fez, aos 20 e poucos anos, não sem antes viver amores e paixões intensas.
A paixão mais explosiva de Rogéria foi com o charmoso policial-bandido Mariel Mariscot, acusado de pertencer ao Esquadrão da Morte e assassinado em 1981.
“Ele vivia cercado de mulheres bonitas e me escolheu. Ficamos juntos uns dois anos, ele era muito possessivo e gostava muito de fazer sexo - e eu estava sempre pronta”, lembra rindo.
Artista revela detalhes de mais de 50 anos de carreira e paixões
ESCONDENDO O PERU
Sexo, é claro, não falta na biografia escrita por Marcio Paschoal (biógrafo do músico João do Vale e autor de vários livros) e que não faz a linha editorial chapa branca. Rogéria, aliás, só viu o livro pronto um dia antes do encontro com a reportagem do CORREIO.
Para evitar que Mariel Mariscot, que se dizia totalmente heterossexual e nem cogitava em ver o pênis de Rogéria, visse o seu "peru", o travesti se vi-