Frieza que incomoda
O Bahia empatou mais uma partida fora de casa, mas o que mais me chamou atenção no jogo contra o Oeste foi a postura dos jogadores tricolores. Num momento crucial da temporada, onde vencer é fundamental para as pretensões do time na Série B, a atitude dentro e fora de campo é algo que deveria prevalecer. Porém, o que percebo é que os atletas demonstram uma frieza mais do que esquisita.
Na quinta-feira, quando foram recebidos calorosamente pela torcida na ida para São Paulo, os jogadores pareciam surpresos. Talvez, muitos não saibam da força do torcedor do Bahia, ou duvidavam da paixão que uma multidão nutre pelo clube. Reações simpáticas, algumas assustadas, mas frias. A impressão fica ainda mais forte quando observo, ao final do jogo, que os atletas sequer foram agradecer aos mais de 3 mil torcedores que foram à Arena Barueri prestigiar o time.
Dentro de campo, a frieza contumaz nos jogos fora de casa. Contra um Oeste combalido e que tem uma proposta de tocar a bola pacientemente, o Bahia não pressionou a saída de bola rival e resolveu marcar a partir de sua intermediária ofensiva. Resultado: um primeiro tempo chato, com um anfitrião tocando a bola sem ser incomodado e um visitante passivo. A intensidade dos jogos da Fonte Nova passou longe. Na etapa final, o tricolor só reagiu quando percebeu que o Oeste poderia incomodar – a equipe de Fernando Diniz abriu o placar em cobrança de falta, e os comandados de Guto Ferreira empataram logo em seguida. Com mais volume de jogo, não conseguiu ser contundente, intenso e eficaz. Mostrou a frieza de sempre.
Guto Ferreira, aliás, é o único que tem o discurso afiado. Não cansa de exaltar a torcida do Bahia e sua importância nos jogos em casa. Fala em intensidade de jogo e entrega dos jogadores. No entanto, as palavras não têm poder quando o Bahia precisa sair de Salvador. E mais: quando resolve dizer que o empate é um bom resultado e que o importante é estar no G4 na última rodada, mostra uma velada resignação com o que o time tem feito na Série B – uma campanha mediana para o tamanho do clube na competição. É lógico que, quando se olha para a tabela, a 38ª rodada é a mais importante de todas, mas é também óbvio que não se deve esperar até lá para se garantir entre os quatro primeiros. É absorver um sofrimento desnecessário.
Ano passado, ao final da 32ª rodada, o Bahia era o quarto colocado, com 54 pontos, e havia vencido o Criciúma por 1x0, gol de Kieza, nos minutos finais do confronto na Fonte Nova. O Santa Cruz era o sexto colocado, tinha 49 pontos e empatou com o Atlético Goianiense por 0x0, fora de casa. Cinco pontos que formavam um abismo entre os pernambucanos e o G4. Nas seis rodadas finais, um pacto foi feito e o tricolor do Arruda subiu com um jogo de antecedência – vencendo o Bahia, inclusive, na Fonte Nova, na partida em que entrou no grupo dos quatro melhores e tirou o Esquadrão de Aço de lá. Ainda é nesse exemplo de superação e intensidade que o time de Guto Ferreira deveria se inspirar.
A frieza para decidir jogos é interessante. Mostrar equilíbrio nas adversidades e paciência para superar adversários complicados são virtudes que poucos grupos possuem. Quando essa frieza, porém, passa a impressão de letargia, conformismo ou pouca atitude, torna-se um elemento que joga contra o time. A equipe que tem quase 80% de aproveitamento na Fonte Nova é a mesma que possui 25% fora dela. Uma bipolaridade que precisa ser tratada o mais rápido possível, caso o time queira retornar à elite do futebol brasileiro.
A frieza para decidir jogos é
interessante. Equilíbrio e paciência são virtudes de poucos. Quando essa frieza, porém, passa a impressão de letargia, conformismo ou pouca atitude, torna-se um elemento que joga
contra o time