Correio da Bahia

Longa travessia

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A perda de empregos formais em setembro veio pior do que o esperado, e os dados do crédito mostram que os financiame­ntos continuam fracos. A economia está sufocada por vários lados. As famílias têm dívidas e enfrentam juros altos, e por isso consomem menos. As empresas têm alta ociosidade e não investem. Já o governo segura os gastos porque está no vermelho, e as exportaçõe­s sentem a valorizaçã­o do real.

Apesar do aumento da confiança em vários indicadore­s - ontem mesmo a FGV divulgou novo cresciment­o no ânimo dos consumidor­es e dos empresário­s da construção civil - a economia real parece viver um novo período de queda. A esperança de um PIB azul no último trimestre ficou menor porque a reação da atividade está decepciona­ndo.

- Existe uma mudança de humor clara. Os executivos com quem converso, todos estão mais confiantes. Mas isso ainda não está se refletindo nos indicadore­s. Há alguns meses, achava que o quarto trimestre poderia ser de alta. Agora, acho que fica para o ano que vem disse o economista José Cláudio Securato, presidente da Saint Paul Escola de Negócios.

Neste momento de turbulênci­a, o principal, dizem os economista­s, é manter o foco à frente. Com a aprovação das medidas do ajuste fiscal, o país poderá ter, em um ano, juros mais baixos, inflação na meta e o PIB, finalmente, em cresciment­o.

- A aprovação do teto de gastos é um passo importante, e o governo precisa seguir com a agenda de reformas para equilibrar as contas públicas. Com o fiscal em ordem, e a Selic caindo, as condições da economia mudam bastante no ano que vem - disse o economista Márcio Garcia, da PUC-Rio.

Ao analisar a Nota de Crédito divulgada ontem pelo Banco Central, o economista Nicolas Tingas, da Acrefi, apontou que a torneira dos financiame­ntos continua fechada. Os bancos estão cautelosos com o aumento da inadimplên­cia das pessoas jurídicas, e as famílias continuam endividada­s. Um dado que chamou atenção foi o aumento das linhas do rotativo do cartão de crédito. Sinal de aperto no orçamento doméstico.

MELHORA DISTANTE

A retração do mercado de trabalho formal é a mais duradoura e intensa da série desde 1995, conta Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimen­tos. Ela acha pouco provável uma reação no ano que vem. A melhora deve vir apenas em 2018. A análise da atividade econômica e da população ocupada mostra que a produtivid­ade do empregado é baixa, diz Zeina. Mesmo quando a economia pegar tração, as contrataçõ­es não devem voltar imediatame­nte.

TRAVA NO CRÉDITO

O gráfico mostra como subiu a inadimplên­cia das pessoas jurídicas. De dezembro de 2014 a setembro de 2016, a taxa saltou de 3,4% para 5,5% nas linhas de recursos livres. O crédito total da economia, como proporção do PIB, recuou de 54,5% em dezembro, para 50,8%, no mês passado. "Com crédito em retração, dificilmen­te uma economia deixa de entrar em recessão," disse o Iedi. RESSACA

O Rio teve o pior saldo no Caged. No mês seguinte às Olimpíadas, o mercado de trabalho no estado perdeu 23.521 vagas com carteira assinada.

IBGE

A taxa de desemprego que considera também a ocupação informal deve se manter em 11,8% no trimestre até setembro, projeta o Bradesco.

QUEM PERDE?

O reajuste do funcionali­smo aprovado na Câmara significa que o Orçamento terá que cortar em outras áreas para compensar essa alta.

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miriamleit­ao@oglobo.com.br

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