Fim do pacto de paz matou 22 nas cadeias
Somando as mortes ocorridas desde o dia 16 deste mês nos presídios do Acre, Roraima e Rondônia, já são 22 óbitos que podem ser os primeiros efeitos de uma importante reconfiguração do crime organizado no país. Os governos de cada estado atribuíram as mortes ao rompimento de uma aliança entre PCC e o CV. As rebeliões deixaram 19 feridos. A aliança entre os grupos vigorava desde, pelo menos, 1997 – mas a parceria entre os grupos era negociada desde 1993, ano de criação do PCC.
Segundo o artigo Tabuleiro do Crime: o Jogo de Xadrez por Trás da Guerra entre PCC e CV, publicado no jornal Estadão, o PCC, além de São Paulo, se consolidou no Paraná e em Mato Grosso do Sul – estados cujas fronteiras são importantes portas de entrada de drogas ilícitas que abastecem o mercado brasileiro – e passou a habitar algumas áreas estratégicas para esses negócios, coligando-se com o CV em consórcios que permitiram melhores condições comerciais aos dois grupos. O texto é assinado pela socióloga e professora universitária Camila Caldeira Nunes Dias.
Segundo ela, as duas facções adotaram estratégias de expansão de seus negócios em todos os estados – com predominância do PCC –, coligando-se, fundindo-se ou opondo-se às facções locais que surgem nas prisões. Segundo o site Ponte, especializado em Segurança, o conflito entre as facções começou em 2015, quando presos do CV de Roraima, Rondônia e Acre se aliaram à facção FDN (Família do Norte) e outros rivais do PCC.
Internos dos presídios do Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Alagoas foram orientados pela liderança de São Paulo a pedirem transferência para outras unidades onde a facção paulista tem vantagem numérica.
No ano passado, internos do PCC em presídios do Norte e Nordeste enviaram cartas à cúpula da organização, na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau (SP), relatando que uma guerra seria inevitável por causa da aliança entre o CV com grupos rivais. Ainda segundo o site, os membros do CV no Norte e Nordeste também comunicaram os chefes da facção fluminense que a paz com o PCC estaria no fim porque os paulistas não concordavam com suas coligações.
Desde sua criação, em 1993, o PCC buscou uma coligação com o CV. O grupo paulista até adotou em seu estatuto o lema do grupo do Rio: Paz, Justiça e Liberdade.