Argel tem dúvidas; quem não teria?
Se faltar Marinho, quem joga? E se faltar Zé Love, quem entra? A primeira pergunta foi feita nos últimos três jogos do Vitória e Argel teve dúvida em responder. Tentou Tiago Real contra Ponte Preta e Sport, tentou David diante do Cruzeiro. A diferença é gritante.
A segunda pergunta é feita para o próximo jogo, amanhã, contra o Fluminense. Argel percebeu que se escolhesse David, Vander ou Nickson, não teria um substituto à altura do titular suspenso. Poderia ainda escalar o boliviano Ramallo, mas ele, com justiça, está fora dos planos. A diferença é gritante. A situação de Argel é complicada porque não há solução. Seja qual for a preferência, não há como ter convicção de que fez uma boa escolha. Seja qual for o escolhido, será uma aposta no escuro. Mudar o esquema tático resolve? Talvez, como fez o treinador ao optar por três volantes no treino de ontem. Mas sem garantia nenhuma de que o time vai melhorar ofensivamente, porque a grande carência do elenco rubro-negro é de meias. Argel pensa em povoar o meio, o que tende a aumentar a posse de bola, mas não a efetividade e a criatividade. Na cabeça de Argel, imagino que o pensamento para esse jogo fora de casa, contra um time que briga por vaga na Libertadores, seja primeiro não perder e depois ganhar. Dói reconhecer, mas é uma lógica sensata. No lugar do técnico rubro-negro, com as peças que ele tem no momento, eu faria o mesmo. E já que o ataque não pode ser a melhor defesa, que a defesa seja o melhor ataque. O empate não tira o time da zona de rebaixamento, mas é um resultado útil.
Há dois caminhos para chegar ao gol adversário: pelo meio e pelas pontas. O time do Vitória minguou ao perder Marinho porque não tem velocidade e criatividade pelo meio. Sem o camisa 7, ficou inofensivo também pelas pontas. Por isso a volta do camisa 7 é tão imprescindível para o
Leão. O elenco tem dificuldade na articulação de jogadas coletivas e Marinho, através dos seus dribles e arrancadas, é o único capaz de mudar o destino de uma partida através da individualidade. Só que Marinho não vai conseguir resolver sempre. A companhia tem sido Zé Love. Sem Zé, Kieza precisa aparecer. Falando nisso, cadê o Kieza do início do campeonato? Deixou saudade. A análise está centrada no talento e na fase dos jogadores. É geralmente o melhor parâmetro para distinguir os times mais fortes dos mais fracos. O que difere Palmeiras, Flamengo e Atlético Mineiro dos demais times não é o esquema tático, e sim a qualidade dos jogadores.
Amparado nisso, a projeção para o Vitória nas próximas seis rodadas é preocupante, a ponto de ser até mais provável cair do que não cair, embora Internacional e Coritiba sejam times do mesmo nível do Leão. No entanto, há componentes complementares ao talento que podem fazer a diferença a curto prazo, como a estratégia de jogo (aposta de Argel), o preparo emocional e o desempenho nas bolas paradas, como escanteios e faltas ofensivas e defensivas.
A bola parada foi decisiva para o Vitória ganhar do Internacional por 1x0 e do São Paulo por 2x0, dois dos triunfos mais recentes da equipe no Brasileirão. Também foi decisiva para duas das mais recentes derrotas. Mesmo jogando pior que o adversário, o Vitória perdeu do Grêmio (1x0) após um gol de falta. Jogando um pouco melhor, também perdeu do Cruzeiro (outro 1x0) após um gol de escanteio, sem contar os pênaltis desperdiçados diante de Cruzeiro e Sport. Em jogos parelhos, o detalhe faz toda a diferença.
Na cabeça de Argel,
imagino que o pensamento para esse jogo contra o Fluminense, fora de casa, seja primeiro
não perder e depois ganhar. Dói reconhecer, mas é uma lógica sensata.
O empate é útil