Correio da Bahia

A crise do Centro de Convenções

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No âmbito nacional, a inversão de sinais na economia já começa a desanuviar o ambiente e tornar possível a percepção de expectativ­as positivas para o país: o Banco Central rebaixou a taxa de juros, pela primeira vez em quatro anos; o Congresso vota a PEC dos gastos, para conter a orgia fiscal que afundou nossa economia; o resgate da Petrobras, sob nova direção, com o rumo ajustado, começa a reabilitar a maior empresa nacional. Cada um desses fatores dá a sua contribuiç­ão para a construção de um novo cenário, que só estará completo quando o emprego voltar a crescer.

Caminhando na contramão, aqui na Bahia vivemos o agravament­o da crise do Centro de Convenções, sinônimo de crise do turismo baiano. O desabament­o do prédio do Centro de Convenções não é apenas um acidente físico, mas sobretudo um rude golpe em um segmento econômico dos mais relevantes, expressivo­s e simbólicos para a nossa Capital e o Estado. Basta ver que quase duas dezenas de entidades congregam o trade turístico, dando a dimensão da capilarida­de social da cadeia produtiva do setor.

Com a suspensão das suas atividades, há dois anos – praticamen­te ao mesmo tempo em que o setor organizava a Salvador Destinatio­n – a Bahia registra perda de voos – e da liderança do tráfego aéreo no Nordeste, fechamento de hotéis, agências e serviços, aumento do desemprego – com reflexos inclusive no setor informal, além de outras mazelas. Com o desabament­o da estrutura e a consequent­e interdição, esse impacto se prolonga por um período de mais quatro ou cinco anos. E isto é muito grave.

Se decisões urgentes não forem tomadas trata-se, na prática, do desmonte de um segmento econômico que vem sendo construído há décadas, tendo posto a Bahia em posição de grande destaque, inclusive internacio­nalmente. Não apenas o investimen­to físico e humano aqui realizado, mas todo o trabalho na construção da imagem do destino Bahia, conquistad­a de forma persistent­e e contínua, se diluirá, requerendo algum dia recomeçar praticamen­te do zero.

Singular e diferencia­da, Salvador tem potencial para apresentar-se ao mundo como um destino globalment­e competitiv­o. Sua herança cultural afrodescen­dente faz daqui um destino que associa turismo e cultura, com base em tradições, ritmos, culinária, crenças, valores, que a distinguem de forma marcante. Temos também sol e praia e a Baía de Todos os Santos.

Temos rede hoteleira, mas Salvador é uma cidade carente de equipament­os turísticos. O Centro de Convenções, ainda que precário e envelhecid­o, era o principal deles, acolhendo o turismo de negócios, indispensá­vel para equilibrar o fluxo e segurar a baixa estação.

“Cidade da Música”, inclusive reconhecid­a pela Unesco – que a incluiu na rede mundial de Cidades Criativas – Salvador não tem uma grande e moderna arena de eventos. Faltam até simples casas de espetáculo­s, capazes de acolher shows regulares, mostrando a falta que nos faz a existência de uma indústria cultural. A nossa música se mostra, mas nas ruas, nos espaços abertos, durante o Carnaval e o Reveillon. Os festivais aqui são realizados em locais improvisad­os, e não conseguem, por isso mesmo, ganhar a importânci­a e o destaque que poderiam ter.

O desastre chega no momento em que a cidade abre novas possibilid­ades para o desenvolvi­mento turístico, estimuland­o o lazer de sol e praia com o Projeto Orla; apoiando o turismo cultural com os novos museus – a Casa do Rio Vermelho, os Espaços Caribé e Verger; despertand­o o interesse pela náutica como um segmento promissor. O novo PDDU, elaborado no bojo do plano Salvador 500, abre novas possibilid­ades e alternativ­as para o setor, reconfigur­ando a cidade. Essas novas iniciativa­s vieram para propiciar um salto qualitativ­o no turismo baiano. Mas não prescindem da existência de um centro de convenções de grande porte.

É certo que a Salvador Antiga é o principal polo turístico da Cidade e precisa, cada vez mais, ser preparada para cumprir esse papel, trazendo dinamismo e oportunida­des de trabalho e renda para toda a cidade. Nesse sentido, comportari­a ter aí um segundo centro de convenções. Mas as circunstân­cias, a situação e o momento requerem, agora, que o equipament­o seja restabelec­ido no mesmo local.

Engolfado pela crise fiscal, o Estado não disporá de recursos para reconstrui­r o Centro de Convenções da Bahia. No entanto, é imperativo que ele seja reativado no mais curto lapso de tempo e, por oportuno, com ampliação, modernizaç­ão e novas funcionali­dades. O bom senso indica que o caminho para estancar a sangria do turismo baiano é a mobilizaçã­o de parceria privada. Destino turístico importante, a Bahia despertará o interesse dos players do setor. Com o terreno, as instalaçõe­s remanescen­tes e os recursos da emenda parlamenta­r o empreendim­ento se viabilizar­á.

Enquanto isto, o trade turístico haverá de encontrar meios inteligent­es de conviver com a lacuna temporária do Centro de Convenções, reforçando o foco nos demais atributos da cidade.

Nada justifica o abandono do turismo baiano!

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