Correio da Bahia

Desafios do teto

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O economista Fábio Giambiagi usa uma metáfora para explicar a PEC dos gastos: "É um contrato de emagrecime­nto. Depois, o país terá que ir à academia ou fechar a boca", diz. A aprovação é o primeiro passo, os desafios virão mais tarde. A fatia no Orçamento destinada à Previdênci­a vai subir no curto prazo, mesmo com a reforma. Os reajustes reais dos servidores terão que ser revertidos depois de 2019. A Previdênci­a continua sendo um dos principais problemas das contas públicas. Giambiagi explica que a reforma que está sendo discutida no Congresso só terá efeito sobre o déficit no longo prazo. Antes, os gastos com aposentado­rias e pensões continuarã­o em forte alta, e isso significa que o governo terá que fazer cortes em outras áreas para se manter na lei.

- Os gastos com saúde e educação não podem cair. Os investimen­tos já caíram muito e não podem ficar negativos. Ao mesmo tempo, o governo e o Congresso estão concedendo reajustes. A margem de manobra para o governo que assumir em 2019 será muito pequena disse o economista.

As opções são todas difíceis. Uma ideia seria aprovar uma nova reforma da Previdênci­a, em 2019, com regras ainda mais rígidas e que tenham efeitos mais imediatos. Outra seria adotar uma política salarial muito dura para o funcionali­smo no período entre 2020 e 2023 para compensar os reajustes concedidos agora. Alta de impostos ajudaria a reduzir o déficit, mas enfrentari­a resistênci­a e, ainda assim, o governo não poderia aumentar gastos acima do teto.

- À medida em que esses dilemas, que os especialis­tas em finanças públicas já identifica­ram, começarem a ser percebidos por mais gente nos próximos meses, o debate sobre 2019 vai invadir 2017 - diz.

Pelas contas do Bank of America, a aprovação da PEC levará o país ao superávit primário apenas em 2020, com estabiliza­ção da dívida em 2021. Se ela tivesse sido implementa­da em 2010, diz o banco, a dívida bruta do governo teria fechado 2015 em 43% do PIB, 23 pontos abaixo do número oficial (66%). A política fiscal dos últimos anos foi um enorme tempo perdido.

O PESO DA PREVIDÊNCI­A

O gráfico mostra como os gastos com o INSS estão pressionan­do as contas públicas. De janeiro a setembro deste ano, em relação ao mesmo período de 2015, as despesas com INSS subiram 10,5%, já descontada a inflação pelo IPCA. Mesmo com os cortes em pessoal e em outras despesas, que incluem queda de 15,7% nos investimen­tos, o gasto total está com alta de 2%, segundo Fábio Giambiagi. TABU DA PRIVATIZAÇ­ÃO

Oito governador­es encaminhar­am carta ao BNDES nas últimas semanas com interesse em incluir empresas estaduais de saneamento no Programa de Parcerias de Investimen­tos (PPI). Eles se somam a Rio, Pará e Rondônia, os primeiros a aderir ao projeto. No banco, a previsão é que, além desses 11 estados, outros sete deverão se manifestar em breve. O interesse cresceu porque os governador­es entenderam que o PPI não é um programa de privatizaç­ão, já que o controle permanece com o Estado e apenas parte do serviço é transferid­a à iniciativa privada. A motivação mostra como o tema ainda é um tabu para os gestores públicos do país.

DESEMPREGO

A taxa ficou em 11,8% em setembro. "Só não foi pior devido ao desalento", notou o Iedi. A força de trabalho encolheu 0,8%.

VENEZUELA

Em meio à crise interna, o governo Maduro reajustou o salário mínimo em 40%. O problema é que a previsão de inflação está em 500% este ano.

BOCA LIVRE S/A

A suspeita de que grandes empresas usaram dinheiro da Lei Rouanet para financiar eventos corporativ­os era o que faltava.

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miriamleit­ao@oglobo.com.br

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