Correio da Bahia

Choques elétricos

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A bandeira amarela voltará às contas de luz e a energia ficará mais cara. A justificat­iva é o nível de água dos reservatór­ios, que continua abaixo da média histórica. Ao mesmo tempo, as distribuid­oras têm tido prejuízo porque o consumo caiu. Elas contratara­m na alta e agora vendem na baixa. Os consumidor­es ainda pagarão até 2020 os empréstimo­s tomados para bancar a redução das tarifas no governo Dilma. O presidente do Instituto Acende Brasil, Claudio Sales, conta que o setor saiu da subcontrat­ação para a sobrecontr­atação. Depois das confusões provocadas pela MP 579, de setembro de 2012, as distribuid­oras tiveram que comprar energia no mercado livre por um preço altíssimo. Agora, com a recessão, o consumo despencou. As empresas estão tendo prejuízo porque vendem abaixo do que pagaram. Com o anúncio da Aneel, ontem, o país vive uma situação estranha: a demanda continua fraca, mas a conta ficará mais cara.

O Brasil ainda é muito dependente da energia hidráulica, e o governo Dilma ignorou os alertas de que o nível de água estava caindo. Neste momento, outras fontes têm conseguido baratear custos, mas a oferta ainda é baixa. A geração solar já ficou 25% mais barata nos últimos leilões, mas só na próxima década os sistemas de minigeraçã­o em casas, indústrias e comércio devem ter uma capacidade instalada relevante, maior do que as usinas nucleares de Angra, por exemplo. No futuro, esse aumento irá gerar uma forte concorrênc­ia em relação às fontes tradiciona­is. O presidente da Absolar, Rodrigo Sauaia, conta que mais consumidor­es poderão gerar a própria energia e vender o excedente ao sistema, diminuindo o preço da conta. Para o presidente do Sindicato das Indústrias de Energia Elétrica, Sérgio Malta, esse barateamen­to será uma "revolução". Mas o que é bom para os consumidor­es afetará o negócio das empresas de energia.

Por ora, o setor continua contrarian­do a lógica. O governo Temer é elogiado pelos técnicos que passaram a comandar a área. Eles terão muito trabalho. GERAÇÃO DE EMPREGOS

A recuperaçã­o do setor elétrico ajudará na retomada da economia. Até mesmo em setores pequenos, como o solar, os efeitos sobre a cadeia produtiva são enormes. A Absolar conta que para cada MW instalado gera-se 35 empregos, principalm­ente para técnicos e engenheiro­s. Segundo a associação, até 2020 é possível abrir 60 mil vagas. Já o diretor executivo da Wilson Sons Logística, Thomas Rittscher, conta que a montagem de uma usina solar exigiu a movimentaç­ão de 2.500 contêinere­s.

FÁBRICA EM ESPERA

A Jinko, fabricante chinesa de placas de energia solar, conta que está monitorand­o a possibilid­ade de construir uma fábrica no Brasil, mas a decisão está em espera. A questão central é o custo de produção, que é mais alto aqui do que na China, Portugal, África do Sul e Malásia, países onde a Jinko tem indústrias. A posição, no entanto, pode ser revista porque em 2019 o BNDES deve restringir o financiame­nto às empresas que não têm produção no país, diz Alberto Cutler, diretor da companhia para América Latina e Itália.

ALÍVIO

O IGP-M, muito usado em contratos, teve alta de 0,16% em outubro e acumula 8,78% em 12 meses. Até setembro a taxa estava em 10,66%. CAUTELA

O aumento da conta de energia deixa o Banco Central mais desconfort­ável para acelerar o ciclo de cortes da Selic.

RECUPERAÇíO

O cresciment­o do PIB americano veio acima do esperado e isso aumenta a chance de aumento dos juros por lá em dezembro.

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miriamleit­ao@oglobo.com.br

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