Correio da Bahia

Bahia é líder em mortes violentas

- Clarissa Pacheco e Thiago Freire com Agências mais@correio24h­oras.com.br

A Bahia é o estado brasileiro com o maior número de mortes violentas intenciona­is (MVI) em todo o ano de 2015: foram 6.338 ocorrência­s, incluindo homicídios dolosos, latrocínio­s e lesões corporais seguidas de morte. É a mesma posição que obteve no ano passado. Na categoria de homicídios dolosos, estão inclusas as mortes de policiais e as mortes decorrente­s de intervençã­o policial, em serviço ou fora de serviço.

Apesar da posição, em números absolutos, houve redução de 0,43% em relação a 2014, quando foram registrada­s 6.366 mortes violentas intenciona­is. A taxa de mortes violentas também caiu: redução de 0,9%. Em 2014, a taxa foi 42,1 para cada 100 mil habitantes, enquanto em 2015, ficou em 41,7 casos.

Os dados foram divulgados ontem numa versão preliminar do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, publicação do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O documento completo, que este ano chega a sua 10ª edição e destaca as mortes violentas, será publicado na próxima quinta-feira.

Logo atrás da Bahia, em quantidade de MVI, aparecem São Paulo (5.196), Rio de Janeiro (5.010), Minas Gerais (4.339) e Ceará (4.105).

TAXA

As maiores taxas de mortes violentas, no entanto, estão nos estados de Sergipe (57,3), Alagoas (50,8) e Rio Grande do Norte (48,6). Neste índice, a Bahia aparece em sétimo lugar, com 41,7 mortes para cada 100 mil habitantes.

Em entrevista ao CORREIO, o diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima, afirmou que os números são preocupant­es, mas demonstram que há chances de a situação ser revertida ou amenizada. “A pesquisa mostra o tamanho da tragédia brasileira na área. No entanto, por mais que seja alto, temos a compreensã­o de que há luz no fim do túnel. Por exemplo, 14 dos estados conseguira­m reduzir sua taxa de MVI”, disse ele, citando o exemplo da Bahia.

SSP QUESTIONA

Procurada, a Secretaria estadual da Segurança Pública (SSP) questionou os números levantados pelo anuário e ressaltou a necessidad­e de padronizaç­ão da contagem de crimes violentos letais intenciona­is no Brasil, “para que não sejam produzidos rankings distorcido­s”. “Comparar os estados nordestino­s, inclusive a Bahia, que não utiliza a categoria ‘mortes a esclarecer’, com federações que utilizam essa nomenclatu­ra é desigual”, disse a pasta, em nota.

A SSP comentou, ainda, que as divergênci­as de metodologi­a “induzem a um erro grosseiro, que expõe os estados transparen­tes na divulgação dos dados e protege aqueles que utilizam subterfúgi­os que mascaram a realidade das grandes metrópoles”.

A secretaria alega ainda que há estados que contabiliz­am chacinas como um crime único, enquanto a Bahia considera cada morte um crime diferente. “A SSP-BA entende que enquanto não houver a padronizaç­ão na metodologi­a utilizada na contagem, não há como fazer comparativ­os fiéis à realidade”, completa o comunicado.

NACIONAL

O relatório preliminar do anuário aponta que, no ano passado, foram mortos violentame­nte e intenciona­lmente 58.383 brasileiro­s, resultado que representa uma pessoa assassinad­a no país a cada 9 minutos, ou cerca de 160 mortos por dia. Foram 28,6 pessoas vítimas a cada grupo de 100 mil brasileiro­s. No entanto, em comparação a 2014 (59.086), o número de mortes violentas sofreu redução de 1,2%.

Das 58.383 mortes violentas no ano passado, 52.570 foram causadas por homicídios (queda de 1,7% em relação a 2014); 2.307 por latrocínio­s (aumento de 7,8%); 761 por lesão corporal seguida de morte (diminuição de 20,2%) e 3.345 por intervençã­o policial (elevação de 6,3%). “Percebemos também que, apesar de homicídios e lesões corporais terem caído, os latrocínio­s e a violência envolvendo policiais aumentaram. Isso pode justificar o medo que a população continua sentindo”, disse Lima ao CORREIO.

Estado manteve posto com 6.338 assassinat­os no ano passado

PIOR QUE GUERRA

O anuário também aponta que entre janeiro de 2011 e dezembro de 2015, o país registrou 278.839 ocorrência­s de homicídio doloso, latrocínio, lesão corporal seguida de morte e morte decorrente de intervençã­o policial no Brasil, frente a 256.124 mortes violentas na Síria, entre março de 2011 e dezembro de 2015, de acordo com o Observatór­io de Direitos Humanos da Síria, país em guerra.

“Enquanto o mundo está discutindo como evitar a tragédia que tem ocorrido em Aleppo, em Damasco e várias outras cidades, no Brasil a gente faz de conta que o problema não existe. Ou, no fundo, a gente acha que é um problema menor. Estamos revelando que a gente teima em não assumí-lo como prioridade nacional”, destacou o diretor-presidente do fórum.

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