Correio da Bahia

Polícia baiana matou 299 e teve 19 baixas

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A Bahia registrou, durante o ano de 2015, 299 mortes decorrente­s de intervençã­o policial, segundo o relatório parcial do Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Por outro lado, as polícias Civil e Militar tiveram 19 mortes em situação de confronto - três delas em serviço, 16 fora. Em números absolutos, as 299 mortes ocasionada­s pela polícia baiana colocam o estado em terceiro no ranking da letalidade policial, atrás de São Paulo (848) e Rio de Janeiro (645). Com uma taxa de 1,96 por 100 mil habitantes, a Bahia fica em nono lugar, tendo Amapá (4,86) e Rio (3,88) as maiores taxas.

Em todo o país, a pesquisa registrou 393 mortes de policiais e 3.345 mortes causadas por eles. O número alarmou o diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima. “A violência nesse patamar é inconcebív­el para um país como o Brasil”, disse ele, em entrevista ao CORREIO.

Para Lima, existe uma guerra em curso, que não beneficia ninguém. “Tanto as mortes pela polícia, como as mortes de policiais, são faces de um mesmo cruel movimento do modelo de segurança pública vigente. É um mata-mata que coloca a vida da população em jogo. Fica uma guerra de bandido e mocinho que não ajuda em nada”, lamentou.

O sociólogo Luiz Cláudio Lourenço, coordenado­r do Laboratóri­o de Estudos sobre Crime e Sociedade (Lassos/Ufba), também atribui o alto número de violência em intervençõ­es policiais ao modelo de segurança pública implementa­do no país. “Temos um modelo centraliza­do em uma estratégia militariza­da. Combate, gera confronto, conflito e morte”, explicou.

De acordo com Lourenço, essa visão pode, na verdade, trazer menos segurança para a população. “Não é apenas a estratégia de policiamen­to ostensivo com muita arma, com ocupação pela força, que vai garantir a finalidade última da polícia, que é a segurança pública. Muitas vezes, essa estratégia vai de encontro com essa finalidade”, ilustrou.

O sociólogo, no entanto, afirmou que pensar um novo modelo, caso seja essa a intenção do poder público, será um processo complexo e demorado. “Sei apenas que esse modelo que prende muito e mata muito, não está dando certo”, concluiu Lourenço.

As 3.345 mortes decorrente­s de intervençã­o policial colocam o Brasil em posição vexatória na comparação com países europeus. Um levantamen­to feito pelo jornal britânico The Guardian, em 2015, registrou 55 disparos fatais na Inglaterra e no país de Gales entre 1990 e 2014. A cada seis dias, o número de mortos pela polícia brasileira se iguala à marca atingida no Reino Unido ao longo de 25 anos.

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