Correio da Bahia

Algemaram os garotos em Miracema

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Há mais de um ano a rotina das prisões de larápios do andar de cima cumpre um protocolo. Contornand­o o constrangi­mento das algemas, os presos aceitam caminhar com as mãos cruzadas às costas. Há duas semanas foi preso em Palmas o ex-governador do estado de Tocantins, doutor Sandoval Cardoso, e a polícia escoltou-o até o Instituto Médico-Legal. Ele não foi algemado, porque no mundo dos marmanjos do andar de cima as coisas funcionam assim. Em Miracema, cidade a 78 quilômetro­s de Palmas, a PM algemou estudantes que haviam ocupado uma escola. Segundo o Ministério Público, o promotor ordenou que dois jovens fossem algemados porque resistiam à ação da polícia. Uma universitá­ria que participav­a da invasão disse que foi algemada com um menor de 15 anos. Segundo o Ministério Publico, a escola foi invadida com o apoio de pessoas estranhas. Há orquestraç­ão nas ocupações de pelo menos 752 escolas e 14 universida­des, mas os encarregad­os da manutenção da ordem precisam entender que o problema adquiriu uma nova dimensão. Nela, algemando-se estudantes joga-se gasolina na fogueira. Em 2013, foi a truculênci­a da polícia de São Paulo que levou o Brasil para a rua. Algemaram os garotos numa semana em que o presidente do Senado chamou um magistrado de "juizeco", a presidente do Supremo Tribunal Federal disse que não tinha horário livre para uma reunião com o presidente da República, e o ministro Teori Zavascki suspendeu uma investigaç­ão impertinen­te ordenada pelo magistrado que o senador chamou de "juizeco". Os mecanismos de protesto e manipulaçã­o que resultaram na ocupação das escolas foram disparados pela bagunça dos adultos poderosos de Brasília. O presidente Michel Temer, que se apresentou ao país como um "pacificado­r", resolveu reformar o ensino médio do país editando uma Medida Provisória. Nem durante a ditadura aconteciam coisas assim.

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