Passos da mudança
A redação do CORREIO foi invadida por uma explosão de cores e energia na tarde de ontem. O jornal recebeu o grupo carioca Dream Team do Passinho e a rapper mirim MC Soffia, que estão em Salvador para participar do Encontro & Africanidades, evento que celebra o protagonismo negro, e conta com várias atividades, hoje, no Candyall Guetho Square , das 10h às 19h, com entrada gratuita.
MC Soffia e Lellêzinha, que integra o Dream Team, participam da mesa-redonda #NaRodaMulheres ARTivistas em 3 Gerações, que contará também com a participação das cantoras Juliana Ribeiro e Tássia Reis e discutirá questões voltadas para a vivência das mulheres negras.
MC Soffia, 12 anos, que fala sobre temas como machismo, racismo e realidade periférica em suas canções, revela que considera muito importante discutir essa questão de gênero, pois quando começou a cantar, ela não tinha uma referência feminina e sentiu falta disso. “Eu via meu amigo cantando e queria cantar também, mas os homens não me ajudavam muito por conta de eu ser menina. Eu ainda não vejo muitas mulheres no rap, mas espero muito que tenha mais meninas e mulheres cantando”, contou.
Já Lellêzinha, única mulher do grupo de funk, conta que sofreu muito preconceito para entrar no mundo das batalhas de passinhos no Rio de Janeiro. “Ainda é um movimento muito machista, só que melhorou muito nessa questão. Eu fui a primeira menina a conquistar o meu lugar e meu respeito lá”.
Além do debate, a programação inclui o lançamento do livro Negra Nua, da poeta baiana Mel Duarte, feira de empreendedorismo com 18 expositores e festa de encerramento. Toda a renda do evento será direcionada à organização soteropolitana Desabafo Social, que luta pela educação e pelos direitos humanos.
Na visita, o grupo conversou, brincou e até dançou o hit De Ladin. E chamou atenção com o visual que mistura estampas africanas ao estilo urbano, cabelos blacks naturais e sorrisos no rosto. Tanto o Dream Team do Passinho e Soffia apostam em visuais que refletem as filosofias das suas músicas. “É você que tem que dar uma pitada no mundo, e não o mundo em você. Essa é a moda, é você trazer de dentro de você toda a sua loucura, liberdade, vontade e ousadia”, disse Lellêzinha. O estilo do grupo marcou presença na última edição do São Paulo Fashion Week.
Enquanto Soffia varia entre o cabelo black e as longas tranças coloridas, o Dream Team aposta em visuais coloridos montados pelo personal stylist Antônio Schober. O grupo conta que sempre interfere nos figurinos, sugerindo diversas referências e modelos. “Uma coisa que a gente aprende na favela é ter liberdade. Liberdade de se vestir do jeito que a gente quer, sem ter preconceito nenhum com o que o outro está vestindo”, afirmou Hiltinho, integrante do grupo.
Um dos temas da conversa foi o Afro Fashion Day, evento gratuito promovido pelo CORREIO no dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, que celebra a cultura africana com moda, música e arte e tem tudo a ver com os visitantes. Este ano, o evento envolverá 70 pessoas negras vestindo marcas baianas na Praça da Cruz Caída.