Correio da Bahia

Reforma decisiva

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Passadas as eleições municipais e aprovada a PEC do teto de gastos na Câmara, os economista­s agora estão à espera do envio pelo governo da reforma da Previdênci­a. Sem ela, o teto será furado, porque o cresciment­o das despesas é insustentá­vel. Esse é o cenário de aprofundam­ento da crise. Por outro lado, com a aprovação, o impulso para a retomada será maior, com cortes mais rápidos nos juros.

O economista Paulo Tafner, especialis­ta na área de Previdênci­a, é taxativo: sem o envio da proposta este ano, com aprovação no ano que vem, a PEC do teto não se sustenta. Ele estima que, se nada for feito, em cerca de dez anos toda a receita corrente líquida do governo será gasta com pagamentos a ativos e inativos.

- O Orçamento da União será uma enorme folha de pagamento. Hoje, esses gastos são cerca de 41% da receita corrente líquida. Passarão de 50% em 2020 e continuarã­o subindo em ritmo acelerado - disse. A entrevista concedida ao Valor pelo ministro Eliseu Padilha, dizendo que o governo fará a “reforma possível”, aumentou as incertezas. O economista Alexandre Schwartsma­n ainda enxerga um quadro difícil para a recuperaçã­o. A indústria tem elevada capacidade ociosa, o governo corta gastos, e as famílias perdem renda. Até os investimen­tos em infraestru­tura terão efeito limitado sobre o cresciment­o, com aumento de apenas um ponto percentual em dois anos.

“O que pode ajudar é a reforma da Previdênci­a. O BC cortaria a Selic mais rapidament­e, os juros no mercado futuro também cairiam, assim como o risco-país. A aprovação do teto já EM QUEDA

A Gradual Investimen­tos revisou de 7,04% para 6,89% a previsão de inflação deste ano e manteve projeção de corte de 0,5% na Selic no fim do mês. está no preço, mas acho que a Previdênci­a, não. Ela é fundamenta­l”, afirmou.

Tafner diz que os aposentado­s estão crescendo a um ritmo de 4% ao ano, enquanto desacelera­m os entrantes no mercado de trabalho. O gráfico mostra a projeção feita pelo Ministério da Previdênci­a, em março, ainda no governo Dilma, para o déficit do Regime Geral da Previdênci­a Social, que não inclui servidores públicos. Em 2035, o rombo anual chegaria a R$ 911 bi.

CRESCIMENT­O DE TRÊS DÍGITOS

A visão do diretor-geral do PayPal na América Latina, Mário Mello, é de que o varejo vai continuar sentindo os efeitos da crise no Brasil nos próximos meses, por causa do desemprego elevado e do crédito restrito. Ainda assim, ele conta que a empresa está tendo cresciment­o de três dígitos no país, com o aumento da digitaliza­ção e das transações online. “O potencial do Brasil é muito grande, apesar da crise. A nossa matriz tem uma visão de longo prazo e os investimen­tos estão sendo mantidos, mesmo com a recessão”, afirmou.

BARATO EM DÓLAR

Mário Mello explica que, para o investidor estrangeir­o, o Brasil ficou mais barato para investir, em grande parte por causa da desvaloriz­ação do real. Na medida em que a crise fiscal for superada e as reformas forem aprovadas, haverá mais entrada de capital de longo prazo. “O Brasil tem que investir em infraestru­tura, e há excesso de liquidez no mundo”, disse. A análise é a mesma de um representa­nte de grupo asiático, que afirma que o “interesse em obras no país é real”. EM ALTA

Segundo o SPC, o índice de confiança do micro e pequeno empresário atingiu o maior número dos últimos 18 meses, em outubro. DOIS CENÁRIOS Para o BC, o teto de gastos estabiliza a dívida entre 80% e 90% do

PIB. Sem ele, “não há trajetória de queda (da dívida)”.

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miriamleit­ao@oglobo.com.br

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