Correio da Bahia

Cenário grego

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O pacote anunciado pelo governo do Rio lembra as medidas implementa­das pelos gregos no auge da crise fiscal europeia: congelamen­to de salários, corte em programas sociais, aumento de impostos e de contribuiç­ões de ativos e inativos. Esse é o cenário que o Governo Federal tenta evitar no país com a PEC do teto de gastos e a reforma da Previdênci­a. O Rio demorou a agir e agora sofre um impacto mais forte.

As finanças do estado padeceram de vários males ao mesmo tempo, explica o economista Fábio Klein, da Tendências Consultori­a. Houve cresciment­o desordenad­o de gastos, muitos deles com maquiagens fiscais; queda de receitas pela redução dos preços do petróleo; crise na Petrobras e nas grandes empreiteir­as por causa da corrupção revelada pela Lava-Jato. A recessão derrubou a arrecadaçã­o e houve menos repasses do Governo Federal.

- Os Jogos Olímpicos também demandaram mais gastos e investimen­tos e houve antecipaçã­o de receitas com royalties que foram usadas para pagar inativos. Foi uma combinação de fatores para se chegar a uma situação tão crítica - afirmou Klein.

A dívida líquida chegou a 198% da receita corrente líquida, no limite do que é permitido pela Lei de Responsabi­lidade Fiscal. O governo está superendiv­idado. Além disso, as contas anuais estão no vermelho desde 2013, mesmo sem considerar as despesas financeira­s. O estado teve déficit primário de R$ 1 bilhão há três anos e o número saltou para R$ 3,5 bilhões no ano passado. As despesas com pessoal cresceram 52% em termos nominais entre 2012 e 2015. Já os gastos com inativos e pensionist­as subiram 100% no mesmo período, de R$ 5,2 bilhões para R$ 10,8 bi (veja a tabela).

A grande dificuldad­e do governo será aprovar medidas duras e impopulare­s a toque de caixa na Assembleia Legislativ­a. O corte de 30% nos rendimento­s dos servidores terá enorme resistênci­a, e o aumento de impostos pode agravar a recessão e não ter o efeito que se espera na arrecadaçã­o. O PMDB do Rio deixou a crise chegar ao limite antes de começar a agir. É o erro que precisa ser evitado na esfera federal. GASTOS COM PESSOAL DISPARAM

Segundo dados do Tesouro Nacional, o Rio foi o estado do País que mais aumentou as despesas com pessoal ativo e inativo. O cresciment­o real entre 2009 e 2015, ou seja, já descontada a inflação do período, chegou quase a 70%. Olhando para o endividame­nto, o Rio tem a terceira pior colocação, ganhando apenas do Rio Grande do Sul e de Minas Gerais.

PRIMÓRDIOS DA CRISE

A capitaliza­ção da Petrobras ocorrida no final do governo Lula, em 2010, foi uma trapalhada tão grande que gera confusão até hoje. Agora, a empresa, a União e a ANP estão discutindo quanto a estatal terá que receber do Governo Federal para compensar a queda dos preços do petróleo. A operação foi tão estranha que envolveu o BNDES e deu início ao que ficou conhecido como as "alquimias fiscais". Pela primeira vez, o governo transformo­u dívidas em receitas, inflando os dados do superávit primário. A perda de confiança nesse indicador aumentou no governo Dilma e é um dos motivos para a recessão atual.

RECESSÃO

A MacroSecto­r Consultore­s estima que a perda de empregos formais este ano chegará a 1,7 milhão de vagas.

PERDAS E GANHOS

O Bradesco revisou de 1,5% para 1% a previsão para o PIB de 2017, mas melhorou a estimativa para a inflação, de 4,9% para 4,7%. CONFIANÇA

Desde 2014 um banco global não concedia empréstimo sem garantia real à Petrobras, como fez o Santander. O financeiro da empresa comemorou.

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miriamleit­ao@oglobo.com.br

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