Correio da Bahia

O jogo das ruas

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O sol rasga a pele de quem circula no Centro Histórico de Salvador. Sem defesa, um homem busca abrigo na sombra de um casarão fechado da Rua da Misericórd­ia, bem defronte à prefeitura. Sentado na soleira, expõe mapas para vender (confesso que não consigo entender o que leva alguém a, nos dias de hoje, vender mapas. Não são mapas turísticos nem nada, são aqueles mapas enormes, da Bahia ou do Brasil, com mil dobras, que se abertos não serão fechados corretamen­te nunca mais).

Na outra calçada, vai passando um vendedor ambulante, exibindo fitinhas de Nosso Senhor do Bonfim e colares de cordinha com pingentes de berimbau em miniatura. Lá da sua sombra, o mercador de mapas puxa assunto com o colega de vendas.

- Ô, rasta, e aí?

- Colé!

- Essa é a semana, viu?! Tem que ganhar os dois. Quem não ganhar, já era!

O rasta, óbvio, não precisa de introdução para saber do que se trata. Sem interrompe­r os passos rumo ao Pelourinho, evita cravar qualquer resultado.

- É, bora ver aí. Duas carniças! Tomara que ganhe.

Em que pese o esforço de reportagem, não deu para saber se o rasta emanava energia positiva para o Bahia, para o Vitória ou para os dois, numa atitude nobre, pacificado­ra e ultradespo­rtiva.

Sigo até a Rua do Saldanha, em busca daquelas lojas de eletrônico­s. Na passagem pela Rua do Bispo, ouço um gari fazendo troça com o vendedor de uma das lojas.

- Seguuuuund­a-feira não falte, não. Venha trabalhar, viiiu! E não quero saber de chororô! Quero você aqui pra gente conversar direitinho.

O repórter titubeia, mas estava com pressa. Também não sei se o gari é rubro-negro ou tricolor, assim como desconheço a predileção do vendedor.

Só sei que, caminhando entre tantas lojas de equipament­os de som, ouço ressoar um teste de microfone de algum dos estabeleci­mentos. “E o motivo todo mundo já conhece, é que o Bahia sobe e o Vitória desce”, cantarola alguém pra toda a rua ouvir. As reações são imediatas.

Ao longe, ouve-se uma espécie de uivo, imagino que de um torcedor do Bahia. “Sai daí, segunda divisão”, rebate um rubro-negro bem na porta de uma das lojas. “Não ganha uma fora!”, brada outro.

De repente, vendedores, garis, ambulantes e boa parte da gente que passa parecem se juntar para tecer a manhã de um jeito próprio, numa algazarra que entra pelas portas, sai pelas janelas, aparece na sacada e toma toda a rua. É um dia normal no Pelô, Salvador em estado bruto.

Pelo adiantado da hora do jogo do Bahia, esta manca reportagem foi fechada antes que se iniciasse a peleja. Quando você, caro leitor ou bela leitora, passar os olhos por aqui, já saberemos se os tricolores chegarão eufóricos ou murchos para trabalhar segunda-feira. Quanto aos rubro-negros, saberemos amanhã.

Certo é que vai ter alvoroço, mesmo com nossos times sendo essas carniças - como bem definiu foi o rasta.

Agora imagine como ficaria a cidade se os clubes se dessem um mínimo de respeito. Em que pese o esforço de reportagem, só podemos mesmo imaginar.

Imagine como ficaria a cidade se os clubes se dessem um mínimo de respeito. Em que pese o esforço de reportagem,

só podemos imaginar

URGENTE

O noticiário informa que Salvador vai receber a estrutura de uma das piscinas dos Jogos Olímpicos do Rio, que será remontada aqui no ano que vem. A prefeitura ainda vai definir o local, mas, para uma cidade que passou anos sem uma piscina olímpica sequer, a notícia é ótima. Com a piscina da Bonocô (que ainda não tem vestiário), serão dois equipament­os de alto nível. Espera-se que governo e prefeitura façam bom uso, mas não só visando competiçõe­s. É importante fomentar o esporte e abrir espaço para crianças e jovens de toda a cidade. Isso é urgente!

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