Correio da Bahia

A vitória de Trump

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Em entrevista a uma americana em Nova York, perguntei se ela não temia que as pesquisas estivessem camuflando os votos daqueles que tinham vergonha em declarar apoio ao agora presidente Donald Trump (é preciso aceitar isso logo de uma vez). “Quem disse isso pra você? Obviamente um republican­o!”, e sorriu. Ela certamente está pensando nisso agora, assim como eu.

Não, eu não previ isso. Talvez nem quem tenha previsto fosse capaz de evitar. Mas, sim, ouvi de um republican­o. “Se as pesquisas estão com essa diferença de 2%, então Trump vai ganhar. As pessoas não estão se sentindo confortáve­l de dizer aquilo que pensam, mas Trump lhe deu essa coragem”, disse a mim o vereador Al Tautenberg­er, na Filadélfia. Ele estava certo, e você e eu, que sorrimos e duvidamos, agora sabemos bem que foi exatamente isso que aconteceu. Se você sabia que Trump venceria, pode dizer: “Eu avisei”.

Hillary não teve chance contra o trator Trump, que disse o que o americano queria ouvir. Na eleição marcada pelo voto de ódio, da rejeição, o eleitorado que não queria a extremamen­te rejeitada Hillary virasse presidente compareceu em peso às urnas. Disse o que queria e o que precisava ser dito para vencer. Reforçou a poeira da desconfian­ça sobre a democrata, disse que protegeria o país de invasões de imigrantes e prometeu uma América grande de novo. Era isso o que a maioria dos americanos queria. Só isso.

Hillary tentou, mas não conseguiu transforma­r esta disputa numa luta de gênero, do homem branco agressivo e desrespeit­oso contra a possível primeira mulher presidente. A divisão nesta eleição foi da classe média empobrecid­a contra aqueles que sofreram menos com a crise econômica. As pequenas cidades rurais engoliram as metrópoles, que viraram ilhas azuis cercadas de vermelho. Ninguém levou a sério a história de construir um muro na fronteira com o México. Mas a imagem da mulher capaz de qualquer coisa para vencer pegou em cheio.

A mídia americana - e talvez de todo o mundo - não conseguiu captar a insatisfaç­ão com o governo Obama, que sai derrotado também, e o encantamen­to da classe média branca com o bilionário. Ao discursar após Hillary reconhecer a derrota, Trump disse que governaria para unir a nação de novo. Vai ter uma difícil tarefa, uma vez que o país está em choque e dividido. Mas vamos todos nos acostumand­o de uma vez. Trump agora é presidente.

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