Arte usada como instrumento de transformação
Ao longo do dia de ontem, o Fórum Agenda Bahia debateu “A diferença que o talento faz”. Quando Margareth Menezes dividiu o palco, no final da programação, com o quinteto de metais Bahia Brass (que integra o Neojiba), o tema do evento fez todo o sentido. Ela cantou, de forma única, Milagres do Povo sob o olhar atento do maestro Ricardo Castro, fundador dos Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia (Neojiba).
Momentos antes, os dois dividiram com o público a forma como apostam em talentos nas instituições que estão à frente.
Margareth, que há 12 anos comanda a ONG Fábrica Cultural, contou a iniciativa do Mercado Iaô, que nos últimos três verões agita a cena cultural e empreendedora da região itapagipana. “Investir no ser humano é a maior sabedoria que uma nação pode ter, especialmente os jovens, que são elementos contundentes de transformação”, afirmou. O maestro relatou como regressou ao Brasil, depois de uma destacada carreira internacional, para apostar em jovens, 80% deles carentes.
Pela manhã, outra experiência mostrou como a arte pode ser transformadora. “A gente tem talento e pode tanto quanto qualquer outro. É só lutar, ter foco e fé”, disse o cantor lírico Sandro Machado, que faz mestrado na Alemanha e conversou com o público direto de lá, via internet, pelo Skype. Em um bate-papo com a comentarista Flávia Oliveira (da Globo News e Jornal O Globo), o tenor baiano contou como largou tudo aqui para estudar música na Europa.
“Fazia Administração e Finanças e odiava o curso”, disse. Fez vestibular para Música na Universidade Federal da Bahia (Ufba) e não passou. “Isso serviu para me dar mais força, foquei no meu objetivo e disse: ‘Vou mostrar para todo mundo que eu posso ser o melhor’”.
Fez um novo vestibular e cursou Música na Ufba. Depois, fez seleção para um coro na Alemanha e passou. “Era o único tenor negro entre eles. Vim com um sonho de cantar nesse coro e depois voltar. Voltei para a Bahia pensando em fazer um mestrado na Alemanha”. De volta à Europa, fez testes e foi aprovado entre mais de 120 concorrentes.
Mas ele confessa que não foi fácil. Teve que trabalhar bem mais do que a maioria dos estudantes europeus, que já têm em sua formação básica muito do ensino voltado para a música e as artes. “Cheguei à Alemanha em 2015 com 28 anos, quase velho para a profissão”.
Atualmente, recebe uma bolsa que garante o pagamento do aluguel e do seguro saúde. Para custear outras despesas, trabalha em um bar. “Faria tudo de novo. Quero ter um nome como cantor de ópera, voltar à Bahia e devolver algo ao meu povo”.