Correio da Bahia

Beleza e dor

- Hagamenon.brito@redebahia.com.br Cotação

Ficção baseada em uma história real ocorrida na família do próprio diretor catarinens­e David Schurmann, Pequeno Segredo estreia hoje e narra a saga singular da garota Kat, interpreta­da pela estreante Mariana Goulart.

Conhecidos por suas viagens ao redor do mundo a bordo de veleiros, Heloísa Schurmann (Julia Lemmertz) e Vilfredo Schurmann (Marcello Antony) adotam Kat e mantêm guardado um segredo sobre a criança. Essa história é contada no filme por meio de três linhas narrativas diferentes e ligadas a personagen­s femininos.

Concorrent­e brasileiro a uma vaga no Oscar de melhor filme estrangeir­o, a produção de R$ 9 milhões protagoniz­ou a mais politizada disputa do cinema nacional neste século. Para parte da crítica, o filme escolhido por uma comissão especial do Ministério da Cultura deveria ter sido Aquarius, do pernambuca­no Kleber Mendonça Filho, cuja equipe fez um protesto contra o governo Temer no Festival de Cannes, na França.

Por conta disso, Pequeno Segredo sofreu preconceit­o antes de estrear - e pior, até por críticos que não viram o filme para julgá-lo. “Foi um ataque político, como se tivéssemos culpa pelo nosso filme ser escolhido. Um crítico chegou a dizer que era o pior filme brasileiro dos últimos tempos. Disseram que era o ‘filme do golpe’”, afirma Shurmann, 42 anos, por telefone.

“É terrível se houve um boicote político a Aquarius, filme que eu gosto muito também, mas isso não tira o mérito do nosso filme. É um direito de cada um gostar ou não de Pequeno Segredo, mas é um filme feito com amor, honesto e que fala muito de preconceit­o. Chamá-lo de filme golpista é algo fora de propósito, assim como compará-lo a Aquarius, pois são completame­nte diferentes”, defende Julia Lemmertz, 53.

ALMA FEMININA

Com boas atuações, bem dirigido e com uma montagem (de Gustavo Giani) competente e fundamenta­l para a boa fluência da história, Pequeno Segredo é uma produção com qualidade técnica internacio­nal e apelo para encantar o público - e os “velhinhos” da Academia de Hollywood.

“É um filme que fica entre o cinema independen­te e o drama comercial, mas sem cair no pieguismo. Lá fora tem se falado isso, assim como o fato positivo de ser algo que aconteceu com minha família, com minha irmã e meus pais, o que dá um toque autoral para um cineasta estreante em ficção. Estou feliz com essa percepção que estão tendo”, conta Shurmann.

“Pequeno Segredo tem um espírito feminino. São três mulheres compartilh­ando um segredo e lutando por uma menina. Gostei do convite do David, conheci a mãe dele, a Heloísa, e li o livro que ela escreveu sobre a experiênci­a com Kat. O livro é ainda mais forte, já que o cinema tem outra linguagem para contar uma história”, diz Julia.

MARIA FLOR

Com roteiro de Marcos Bernstein (Central do Brasil) e Victor Atherino (Faroeste Caboclo), bela fotografia do peruano Inti Briones (To Kill a Man) e direção de arte da mexicana Brigitte Broch (Oscar por Moulin Rouge), Pequeno Segredo tem um dos seus pontos altos na narrativa que reúne os personagen­s do ator neozelandê­s Erroll Shand, da irlandesa Fionulla Flanagan (Os Outros) e de Maria Flor, no melhor desempenho de sua carreira.

“É muito lindo como uma história de amor surgida de um encontro tão improvável deu origem a criança que, de repente, acaba em uma família que viaja o mundo. O fato desta história ser verdadeira me fascina muito”, afirma a atriz carioca Maria Flor (Aline, Som e Fúria).

“David Shurmann me mandou o roteiro e, quando eu li, fiquei muito emocionada. Quando descobri que a história era verdadeira e baseada na sua própria família, pensei: ‘que pessoas extraordin­árias!’”, lembra Fionulla.

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O neozelandê­s Erroll Shand e a brasileira Maria Flor (em atuação inspirada) interpreta­m Robert e Jeanne

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