Um sobrenome e a História do Brasil
Na quinta-feira, Paulo Fernando Magalhães Pinto, assessor e laranja de Sérgio Cabral, entregou-se à Polícia Federal. Com a entrada de um Magalhães Pinto na carceragem viaja-se pela História de três gerações do andar de cima de Pindorama. Na raiz dessa árvore esteve a suave figura de José de Magalhães Pinto, um modesto bancário que se tornou um líder empresarial durante o Estado Novo. Em 1943, aos 33 anos, assinou o Manifesto dos Mineiros pedindo a redemocratização do país, perdeu todos os cargos. Magalhães fundou o banco Nacional, que se tornou um dos maiores do país. Entrou para a política, elegeu-se deputado e governador de Minas Gerais, derrotando Tancredo Neves. Em 1964, foi o mais destacado líder civil na deposição de João Goulart.
Com uma calva inesquecível e modos gentis, não ganhou a estima dos militares, mas, mesmo assim, em 1967 foi nomeado chanceler, assinou o Ato Institucional nº 5 e perdeu o rumo, e viu-se condenado a papéis de coadjuvante, apesar de ter chegado à presidência do Senado. Nunca praticou violência contra o erário ou pessoas físicas. Em 1985, numa trapaça do destino, votou em Tancredo Neves, seu adversário histórico, e meses depois teve um acidente vascular cerebral do qual não se recuperou até sua morte, em 1996.
Magalhães já não estava consciente quando seu banco, administrado pelos filhos Marcos e Eduardo, foi à garra. Marcos passou um breve período na cadeia. Eduardo, pai de Paulo Fernando Magalhães Pinto, presidia o conselho administrativo do Nacional, e sua irmã Ana Lúcia era mulher do filho do então presidente Fernando Henrique Cardoso.
A ruína do Nacional deixou um rombo estimado em R$ 6,7 bilhões, e ele foi absorvido pelo Unibanco. Em 1995, dez anos depois da quebra do banco, Eduardo Magalhães Pinto estava na lista de viajantes VIP da alfândega do Rio de Janeiro.