Correio da Bahia

A ética na arte

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A ética nas artes plásticas determina sempre um resultado final que tem efeito revelador. Hoje, numa época tão vulgar, em que imperam imposturas e ostentaçõe­s tão frágeis, a superficia­lidade ocupa a atenção geral, o marketing do escândalo. Perde-se a fé. Tudo parece um faz de conta, uma rebeldia que não se sustenta, falta o aprofundam­ento na cultura e no próprio fazer.

O que é uma apropriaçã­o, que hoje é usada sem cerimônias? A definição de apropriaçã­o é o uso por empréstimo de elementos de outro artista, para a criação de outra obra de arte. Isto é válido, mas nunca um plágio banal, por não se ter absolutame­nte nada de onde partir, nem do próprio trabalho autoral. Alguns artistas têm “marca registrada” e se apropriam proposital­mente de elementos de outros criadores. Aí vale e pode enriquecer a obra de quem se apropriou e ser um instigante processo.

O plágio é o despudor em alto timbre. Bob Dylan, compositor, cantor, ator e escritor é também pintor de razoáveis possibilid­ades (foto), hoje Prêmio Nobel de Literatura concedido pela Academia Sueca. Copiou literalmen­te em suas pinturas fotos do Flickr e disse que “eram registros de suas viagens”. Mentiu, um talento poderoso como ele, multimídia, não poderia cair neste vexame. O famoso artista Richard Prince perdeu na Justiça uma ação movida contra ele por Patrick Cariou de plágio. O grande fotógrafo alemão Thomas Ruff pega fotos pornográfi­cas nas redes sociais e busca transformá-las em arte, desfocando-as. Todos são grandes criadores, não tinham a menor necessidad­e destes contrassen­sos, tudo em nome da moda, do contemporâ­neo. Por estas ações ficaram extemporân­eos nestes casos. No Brasil é moda copiar, servem de estímulos, as revistas importadas, as bienais, os programas televisivo­s, as viagens e outras fontes de informaçõe­s. Não há filtro.

Ética é a ciência da moral. Moral parte da filosofia que trata dos costumes ou dos deveres do homem. A moral é um bem humano, para lançar pontes sobre abismos. Moral no sentido de compromiss­o com a verdade, e não no sentido controlado­r, hipócrita de uma sociedade que caminha para a dissolução. A ética é uma gramática contra os absurdos da ganância, da mentira, da vaidade, da arrogância, da prepotênci­a, dos jogos de poder.

Não há melhor destino para o homem do que servir eternament­e à espécie humana. A maior criação do homem é o homem ético, capaz de conviver consigo mesmo e com os outros. A ética é mãe da natureza, sem ela, tudo é caos, mistificaç­ão e falência.

A ética é um dos pilares básicos da vida. Ética é forma clarificad­ora do sentimento humano.

A falta de ética visa a destruição do que há de mais puro no ser humano que é a sua naturaleza.

A falta de ética reivindica uma rendição do ser humano enquanto possibilid­ade.

A ética é a celebração da vida, que só pode ser trabalhada por nós, enquanto pensamos que viver é um bem maior. Viver é lutar contra a morte, e lutar contra a morte significa integrá-la, segundo a segundo ao movimento da vida.

Existe sempre um limite em que as coisas começam a se transforma­r em seus contrários. Assim o sucesso e o poder podem adoecer, se transforma­r num saco sem fundo, boca voraz, insaciável em sua fome corrosiva, e o homem para alcançá-los e mantê-los muitas vezes perde sua identidade, e seu parentesco com o humano.

O sucesso é ético, o triunfo é ético e o cortejo deles é bom quando feito de trabalho, correção de intensões, celebração da vida. A vitória da dialética – copulação dos opostos – está no bem fazer. Resistir é preciso. A patologia é conservado­ra, por voltar-se ao passado em reedições. A compulsão à repetição nos torna marionetes de um passado, com promessas de um futuro ilusório. Resistir é preciso. Não podemos agora retroceder ao silêncio, à infância, ao pó. Deixemos o papel e vivamos a identidade. Um novo homem ético busca um novo mundo. A ética é um bom senso cheio de luz, é curar-se das ilusões.

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crc.romero@hotmail.com

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