Correio da Bahia

Na sofrência

- Elton Serra

Dificultar jogos relativame­nte fáceis é algo comum no futebol. O mais forte, autossufic­iente, acredita que irá resolver o confronto a qualquer momento. O mais fraco, acuado, procura o mínimo de espaço para tentar surpreende­r. Neste jogo de gato e rato, por muitas vezes o roedor consegue ludibriar o felino.

Nos seus três últimos jogos na Série B, o Bahia foi o mais forte. Notadament­e, tem um time que teria a capacidade de somar nove pontos nesse período, sacramenta­ndo o acesso à Série A no jogo contra o Bragantino. Diante do Sampaio Corrêa, vice-lanterna, sofreu para fazer 1x0 aos 47 minutos do segundo tempo. Contra o Luverdense, time de orçamento e campanha modestos, empatou aos 49 da etapa final, mesmo ostentando um jogador a mais durante boa parte do confronto.

Já escrevi diversas vezes neste espaço que, nesta reta final de campeonato, o resultado é mais importante que o desempenho. Porém, na Série B, o Bahia tem levado a sério demais essa premissa. No último sábado, encontrou um Bragantino disposto a atacar e, consequent­emente, a deixar espaços para o trabalho ofensivo tricolor. Abriu 2x0 e jogou no Dique do Tororó a ansiedade que poderia tomar conta da equipe. A ansiedade que se transformo­u em tranquilid­ade e logo depois desceu para nível do relaxament­o – tempo suficiente para o Braga diminuir o marcador. Daí, voltamos àquela questão da autossufic­iência, que volta e meia reaparece no elenco de Guto Ferreira e que por muitas vezes prejudica o desempenho: os paulistas se aproveitar­am disso para empatar o jogo e empurrar o Bahia novamente ao estado de ansiedade.

Ter a certeza de que vencerá o jogo é uma virtude, por mais que ela esteja pisando numa linha tênue, onde do outro lado se encontra a soberba. Mas é louvável que, mesmo com desempenho abaixo da crítica, o Bahia ainda tenha frieza para buscar o resultado. Renato Cajá, um dos mais experiente­s do grupo, saiu do banco de reservas para decidir o jogo a favor do Esquadrão. Aliás, dos 56 gols do tricolor na Série B, 34 foram marcados no segundo tempo - 12 deles nos 15 minutos finais das partidas.

No último jogo do ano, contra o campeão Atlético Goianiense, Guto Ferreira precisa trabalhar o equilíbrio de sua equipe. A ansiedade e o relaxament­o atrapalham qualquer desempenho. Entre eles está a tranquilid­ade - algo que o time pouco experiment­ou durante a temporada e que precisará buscar no Serra Dourada para alcançar a glória.

No último jogo do ano, contra o campeão Atlético Goianiense, Guto Ferreira

precisa trabalhar o equilíbrio de sua equipe. A ansiedade e o relaxament­o atrapalham qualquer

desempenho

TÁTICA DE RISCO

No Vitória, o sofrimento também deverá durar até a última rodada, apesar do excelente resultado contra o Figueirens­e, ontem, no Barradão. Argel Fucks, com seu estilo ortodoxo de treinar suas equipes, coloca o resultado acima do desempenho e, por muitas vezes, leva o emocional dos jogadores ao nível máximo, algo que também pode ser perigoso a depender da personalid­ade de cada atleta.

Não vejo com bons olhos a excessiva exaltação a Marinho, colocando o atacante no patamar de ‘salvador da pátria’. Óbvio que o camisa 7 é o principal jogador do time, mas o técnico tem a missão de tirar o máximo do grupo para que o rendimento seja satisfatór­io, afinal, futebol é um esporte coletivo. Não é função do treinador atribuir publicamen­te a responsabi­lidade a apenas um jogador. Ontem, o time fez seu melhor jogo coletivo nas mãos de Argel e, quando o conjunto funciona, as individual­idades aparecem. Marinho fez um gol e deu duas assistênci­as, mas jogadores como William Farias, Marcelo, Cárdenas, Kieza e Zé Love também cresceram em desempenho. É neste tipo de tática que o comandante rubro-negro precisa focar.

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elton.serra@redebahia.com.br

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