Correio da Bahia

O rito de passagem de uma menina

- Aquiles do MPB4

Apenas um cello dá inicio ao rito. Nas mãos de Federico Puppi, lá vai ele semeando caminhos. Eis que chega uma voz quase frágil de tão delicada. Eis a cantora, compositor­a e violonista Barbara Rodrix. Eis Eu Mesmo (Paulo Novaes), a música que abre a tampa do CD independen­te de mesmo nome, que tem produção musical do compositor e pianista Breno Ruiz.

Afinada que só ela, elegante que só ele, Barbara e Federico são os responsáve­is pela beleza da música, cujos versos iniciais, “Tive que esquecer/ Me desprender/ chorar ate doer o coração/ Sofrer até gastar a solidão (...)”, findam ao avesso do início: “(...) E hoje eu tô assim/, feliz, em paz, sem medo/ Querendo ser assim:/ mais perto de mim”. Palavras que traduzem a música e a vida de Barbara.

Eu Mesmo, o CD, é a tomada de fôlego para vistoriar o que ainda dói. Um álbum que ecoa um grito represado, lançando belezas a torto e a direito. Valendo-se das palavras de Paulo, Barbara toma consciênci­a da saudade que ainda lhe fere, e passa a ver a vida do jeito que ela é.

Comovido com tamanha simbiose poético/musical, vou à faixa dois: Venha (Barbara Rodrix e Luiza Possi). Nela, sentindo-se liberta, Barbara faz um convite para que a revisitem nesse momento em que se dá sua mutação, seu rito de passagem de menina melancólic­a para mulher criadora. Seguindo: Barbara criou a melodia para os versos de Ricardo Soares, na suingada Ainda Assim. Suas aptidões harmônica e rítmica surgem claras, nitidez que se confirma ao longo do CD, para o qual ela criou outras melodias em diversas parcerias.

Como seu pai, Zé Rodrix, Barbara não se prende a nenhum dogma e não tem o menor preconceit­o contra qualquer gênero musical na hora de compor. Assim, ela escolheu cantar para brilhar em Eu Não Sei Falar de Amor, um blues de Zé Rodrix e Felipe, que tem participaç­ão do clarinete de Proveta.

Na maioria das vezes os arranjos (que Barbara divide com Breno Ruiz) se valem de poucos músicos – o que, além de tornar mais fácil a percepção do som dos instrument­os, permite que Barbara demonstre boas respiração e dicção.

A delicada canção E Foi Você (Barbara e Luiza Possi) traz a gaita de Tuco Marcondes (que neste arranjo também toca guitarra). Barbara, que toca violão de cordas de aço, divide o canto com Luiza.

Apenas baixo acústico e cello a acompanham em Olhos Abertos. Os instrument­os desenham a melodia com notas longas, o que torna ainda mais sombria e linda canção de Zé Rodrix e Guarabira. Novamente, Barbara escolheu uma canção que parece retratá-la, ainda que tenha sido composta antes de ela gravar o álbum: “(...) Eu preciso encontrar as pessoas/ Ficar de mãos dadas com elas/ Conversar com a boca e os olhos do coração”.

Eis que Barbara Rodrix veio nos apresentar o tanto de musicalida­de que carrega em si... e eu fico aqui só matutando o quanto Zé deve estar orgulhoso de sua filha, meu Deus! Sim! Pois, assim como os dele, o CD da Barbara é de rara contempora­neidade.

Eu Mesmo, o CD, é a tomada de fôlego para vistoriar o que ainda dói. Um álbum que ecoa um grito represado, lançando

belezas a torto e a direito. Valendo-se das palavras de

Paulo, Barbara toma consciênci­a da saudade que ainda lhe fere, e passa a ver a

vida do jeito que ela é.

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aquilesmpb­4@gmail.com

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