Uma história singular
Após anos recluso e distante dos holofotes, o ex-líder de Cuba Fidel Castro morreu na noite de anteontem no país. Ele lutava contra uma doença intestinal há uma década e sua saúde vinha se deteriorando. Em sua última aparição pública, para celebrar seu aniversário de 90 anos, em agosto, demonstrava uma aparência frágil.
Fidel Castro foi uma das figuras mais polêmicas do século passado e também do começo deste século, depois de ter liderado uma revolução no país em janeiro de 1959.
Naqueles dias eufóricos, centenas de milhares de cubanos saíram pelas ruas e campos do país gritando liberdade, enquanto um novo governo formado por guerrilheiros barbudos, que haviam lutado durante três anos nas serras contra o ditador Fulgêncio Batista, tomava o poder no país.
Nos meses seguintes, cresceu a confrontação entre o líder da revolução, Fidel Castro, e o governo americano. Os Estados Unidos deixavam de comprar quase todo o açúcar produzido pela ilha (praticamente seu único produto de exportação) as refinarias americanas na ilha pararam e o país entrou em uma crise profunda.
Mas os cubanos viram algo novo no país: a abertura de escolas feitas por voluntários para combater o analfabetismo, que afligia pelo menos metade da população; o fechamento dos cassinos e bordéis controlados pela máfia ítalo-americana e por partidários de Batista em Havana e em Santiago; a reforma agrária, com a repartição dos enormes latifúndios de canade-açúcar e a entrega de títulos de posse a milhares de camponeses miseráveis.
Além disso, centenas de ex-militares e policiais do regime de Batista, acusados de torturas e assassinatos, foram levados a julgamentos públicos e punidos.
GUERRA FRIA
Era o clima da Guerra Fria. Tudo isso enfureceu os EUA, que armaram a invasão de Playa Giron (ou da Baía dos Porcos, como ficou conhecida no mundo): 1.500 exilados cubanos, armados pela CIA, que partiram da Nicarágua para derrubar o regime liderado por Fidel. Os cubanos, no entanto, apoiaram Fidel em massa. “Fidel Castro não é um comunista, mas a pressão dos Estados Unidos deverá transformá-lo em um comunista em dois ou três anos”, disse o líder soviético Nikita Kruchev em 1960.
Após terem sido cercados na praia por milícias populares e forças leais do Exército cubano, os invasores se renderam, depois de deixarem mais de cem mortos no combate. Muitos historiadores coincidem: a vitória de Playa Giron e a duração do regime comandado por Fidel só foram possíveis pela enorme popularidade do líder e por grandes avanços sociais que realmente ocorreram em Cuba, pelo menos nas décadas de 1960 e 1970.
Fidel foi uma uma das figuras mais polêmicas do século passado
BIOGRAFIA
O líder cubano nasceu no dia 13 de agosto de 1927, na fazenda de cana-de-açúcar de seu pai, perto de Birán, no litoral cubano. O pai de Fidel, Angel Castro, nascido na Galícia (Espanha) foi para Cuba com o exército espanhol, durante a guerra entre a Espanha e os Estados Unidos (1898). Com o fim da guerra, Angel, como vários espanhóis, preferiu tentar a sorte em Cuba.
Angel era um trabalhador resistente e econômico. Em 1926, ele comprou sua primeira fazenda de cana-de-açúcar. Em seu primeiro casamento, com uma professora cubana, teve dois filhos. Ele mantinha um romance com uma cozinheira cubana que trabalhava para a família, Lina Ruiz González. Após a morte da primeira mulher, Angel se casou com Lina, que já lhe havia dado três filhos: Angela, Ramón e Fidel. O casal teve mais três filhas e um filho, Raúl.
Fidel teve uma infância despreocupada. Ele entrou na escola pública local aos 6 anos e em 1942, aos 15 anos, começou o curso secundário em Havana. Tornou-se um orador brilhante e líder estudantil. Em 1945, ingressou no curso de Direito da Universidade de Havana.
O primeiro ano marcante para Fidel foi 1948, quando ele visitou Bogotá, capital da Colômbia. Ali participou de uma