Correio da Bahia

O dia musicado

- Aquiles do MPB4

O vibrafonis­ta e agora compositor Ricardo Valverde lançou Trios (Baticum Discos), seu segundo CD. Ao privilegia­r seu instrument­o (ainda raro de se ouvir como solista), suas músicas prestam tributo ao bom gosto.

Tendo Ricardo no vibrafone, Alex Maia no violão e Matteo Papaiz na bateria, Vinheta (Ricardo Valverde e Juliana Valverde), primeiro dos quatro movimentos do primeiro trio, retrata a manhã.

O vibrafone e o violão iniciam. Tudo muito leve, delicado como a luz clara de um límpido amanhecer, raiado após a ventania que o sudoeste trouxe envolta em tons de cinza. O baixo acústico traz consigo o chão. Os duos de vibrafone e violão acrescenta­m magia ao tema. Nada de pressa. O samba é lento como o tempo que a vida despreza ao passar sempre apressada.

Pecinha (Ricardo Valverde) é o segundo movimento, quando vibrafone, violão e baixo engrenam um baiãozinho doce como ele só.

Revendo o Passado (Freire Junior) é o terceiro movimento. O vibrafone chama e o violão atende. Tem início uma valsa. Enquanto o violão e o baixo seguram as pontas, nas mãos de Ricardo Valverde está a beleza da música, findada num ralentando. Moçambique (Ricardo Valverde e Douglas Germano) é o quarto e último movimento do primeiro trio. O vibrafone pulsa ao sabor do samba leve. O violão compra o barulho e chega carregado de suingue. O vibrafone improvisa. A seguir, o improviso é do baixo acústico. Todos ao sabor do ritmo. Um desenho bem ajustado fecha a tampa. O segundo trio representa a tarde. Com Ricardo Valverde (vibrafone), Luizinho 7 Cordas (violão de sete cordas) e Álvaro Couto e Silva (acordeom), os quatro movimentos nos conduzem desde o início da tarde até o início da noite.

Minimizand­o (Ricardo Valverde), Feirinha no Apinagés (Ricardo Valverde e Luizinho 7 Cordas), Flor de Sal (Ricardo Valverde e

Bia Goes) e Do Outro Lado do Quintal (Ricardo Valverde e Juliana Valverde) são os temas para o segundo trio.

No primeiro, o forró está nas mãos do acordeom. O vibrafone improvisa. Logo, o acordeom também. O baixo acústico passeia por entre os solos. O final se aproxima quando uma baixaria do sete cordas faz o tema vibrar. No segundo tema, o forró continua. Resfolegan­do, o vibrafone o conduz. O baixo suinga. O sete cordas e o vibrafone dialogam. O improviso está com o sete. E todos levam ao final. O terceiro é uma canção mais lenta. Bela de doer. E o quarto tema chega comovendo. O sete cordas sola. O vibrafone improvisa e dá show e, com o acordeom e o baixo, ralentam e fecham a tampa.

Com os olhos postos num futuro inalcançáv­el, a humanidade trabalhand­o para acumular ilusórias riquezas e ansiando que tudo seja para ‘ontem’, o CD de Ricardo Valverde é uma ode à tranquilid­ade – um disco raro em sua sólida serenidade –, e que vem auxiliar a redimir tamanha e angustiant­e agonia.

Ainda há um terceiro trio com quatro movimentos, tocados por vibrafone, baixo elétrico (Matteo Papaiz) e guitarra (Yuri Prado), mas... O espaço acabou.

O violão compra o barulho e chega carregado de suingue. O vibrafone improvisa. A seguir, o improviso é do baixo acústico. Todos ao sabor do ritmo. Um desenho bem ajustado fecha

a tampa.

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aquilesmpb­4@gmail.com

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