Correio da Bahia

Ananias: um tricolor para a eternidade

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“Mesmo não sendo baiano, é um clube que passei a amar desde que cheguei aqui. O Bahia é a minha vida”. Dessa forma, em 2011, Ananias falou sobre o seu sentimento pelo tricolor. Aos 27 anos, o maranhense de São Luís, morto no trágico acidente com o avião da Chapecoens­e na madrugada de ontem, vai deixar muita saudade, principalm­ente no mundo do futebol. Religioso, sereno e dedicado à família, mas, ao mesmo tempo, gaiato. Assim é possível definir o perfil do atacante, revelado no Fazendão e que fez 123 partidas com a camisa azul, vermelha e branca, marcando 13 gols.

Ananias chegou ao Esquadrão na temporada 2004, ainda para as categorias de base. Talvez tenha vivido o período mais difícil da história do clube, que passou sete anos entre as séries B e C, antes de subir para a elite em 2010, ano em que ele, bastante versátil, chegou a atuar como lateral-direito, meia e atacante, sendo muito importante para a glória final diante da Portuguesa, no dia 13 de novembro daquela temporada.

Entretanto, o sonho de se tornar jogador de futebol não foi fácil. Em entrevista ao filme Bahêa Minha Vida, Ananias contou como conseguiu convencer a mãe, dona Rosália, a largar tudo em sua cidade natal para morar em Salvador. “Para eu sair de São Luís foi uma dificuldad­e, minha mãe não queria, pois eu era novo, tinha apenas 14 anos. Ela chorava muito e eu também, mas era o que eu queria e ela aceitou. Só que eu consegui ter uma família no Bahia, os funcionári­os me apoiaram bastante e comecei a me apegar nisso”, disse, na época.

Ao lado do amigo-irmão Ávine, o baixinho de 1,69 m costumava dar trabalho a dona Mira, cozinheira do Bahia. “Ela é nossa mãe no Fazendão”, falou ele. Em entrevista concedida a mim, no CORREIO, confessou sentir muita falta do Cuxá, comida típica maranhense que leva arroz, abóbora e algumas ervas. “Por isso que eu corro muito. A comida é boa e dá sustança!”, divertiu-se. Apesar dos bons momentos no Fazendão, Ananias deixou o Bahia sem conquistar um título. Na despedida, não escondeu a decepção e prometeu voltar para continuar a história no clube. Infelizmen­te, não teve tempo. Mas, no intervalo até ir brilhar na seleção dos anjos, deixou seu nome marcado em clubes como Portuguesa e Sport, com passagens também por Cruzeiro e Palmeiras.

Na Portuguesa, em 2011, foi campeão da Série B e o principal jogador do time, que ficou conhecido como “Barcelusa”, em referência ao famoso clube espanhol. Marcou 12 gols no campeonato e ajudou o time a fazer incríveis 81 pontos em 38 rodadas. O apelido de Ananiesta ganhou força, principalm­ente por causa da semelhança física com Iniesta, do Barça.

Dois anos depois, voltou a ganhar a Série B, desta vez com o Palmeiras, atuando em 20 partidas. No Sport, em 2014, papou os títulos do Pernambuca­no e do Nordestão. De quebra, deixou o nome para sempre gravado na história do Allianz Parque, nova arena palmeirens­e. Na inauguraçã­o, dia 19 de novembro, fez o primeiro gol oficial do estádio, aos 31 minutos do segundo tempo. E olha que ele saiu do banco de reservas. Predestina­do. O atacante estava na Chape desde 2015 e, neste ano, foi campeão catarinens­e. Na Sul-Americana, fez o gol histórico do empate por 1x1 diante do San Lorenzo, na primeira partida da semifinal. Na volta, a Chape empatou por 0x0 na Arena Condá e garantiu vaga para a decisão contra o Atlético Nacional. Ananias deixa a esposa Bárbara, o filho Enzo, 3 anos, e uma legião de fãs. Ao todo, como profission­al, foram 309 jogos e 43 gols.

Tive a oportunida­de de conviver com ele durante um bom tempo, quando fui setorista do Bahia pelo jornal. Sempre educado, dispensava a entrevista coletiva na sala de imprensa e não se incomodava de ficar alguns minutos sentado no banquinho para um bom bate-papo. Gente boa, curtia um hip-hop, mas também era admirador do reggae, que toca muito no Maranhão. Por fim, não me esqueço do recado que Ananias deixou a este jornalista que vos escreve, no dia 20/1/2012, data do seu aniversári­o e da despedida do Bahia de forma definitiva. “Sempre vou amar esse clube”, afirmou, enquanto posava para a última foto que fez no Fazendão, tirada por mim. Vá em paz, Ananias!

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miro.palma@redebahia.com.br

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