Governo minimiza gravações de Calero
CRISE O Planalto reagiu ontem à divulgação de trechos de conversas gravadas pelo ex-ministro da Cultura Marcelo Calero com integrantes do governo. Após deixar o cargo, na semana passada, Calero acusou ministros e o próprio presidente Michel Temer de pressioná-lo para que interferisse para alterar um parecer do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) sobre um empreendimento imobiliário em Salvador. O Planalto tenta dar ao episódio uma interpretação de que a gravação não compromete o presidente ou o governo. Porém, ministros e deputados ouvidos pela reportagem dizem que há, sim, um receio em relação a áudios ainda desconhecidos. A transcrição das primeiras gravações analisadas pela Polícia Federal foram divulgadas ontem pela Globonews. Em uma delas, Calero conversa por telefone com Temer e diz que, depois de ter feito uma “reflexão muito grande”, decidiu mesmo deixar o governo. “Quero pedir minha demissão e quero que o senhor aceite, por gentileza, porque eu não vejo mais condições e espaço de estar no governo”. Temer, então, afirma que respeita a decisão do ex-colaborador. “Ontem, eu acho que até fui um pouco inconveniente, né? Insistindo muito para você permanecer. Confesso que não vejo razão para isso, mas você terá as suas razões”, diz o presidente Temer na gravação. Em depoimento espontâneo à PF, um dia depois dessa conversa, o ex-ministro disse que Temer o havia “enquadrado” para atender aos interesses do ex-ministro Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) na briga com o Iphan. Embora o trecho do áudio que se refere a Temer tenha sido considerado pelo Planalto como o de uma conversa “protocolar”, a preocupação do presidente é com as gravações ainda não divulgadas, envolvendo o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o próprio Geddel. Para o secretário executivo do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Moreira Franco, a divulgação dos áudios, porém, deixa claro que tudo não passa de uma “espetacularização” para prejudicar o governo. “Querem espetacularizar algo que a vida está mostrando que não é nada”, disse. Ontem, Calero negou, no Facebook, que tenha "agido a serviço do PSDB" ao denunciar Geddel. O ex-ministro se referia a informações de que o seu antigo partido iria se beneficiar com a desestabilização do governo. "Nossa deterioração moral e ética chegou a um nível tal, que muita gente acha impossível alguém simplesmente fazer o correto e buscam uma explicação que não existe", escreveu.